No seminário de que participei na segunda (01/03/2010), promovido pelo Instituto Millenium, acusei a imprensa — com as exceções de praxe — de se render à patrulha do PT. Ou, pior do que se render propriamente, de estar operando segundo os valores do partido. Uma denúncia ou outra contra petistas estouram aqui e ali, é verdade, mas o alinhamento, vamos dizer, à esquerda, na maioria dos temas, é evidente. Fui muito específico: os princípios que garantem a imprensa livre — democracia representativa, estado de direito, economia de mercado, direito de propriedade — estão sob permanente ataque, e os protagonistas da ação são os petistas e as muitas franjas do partido.
Não obstante, uma das práticas rotineiras do partido é acusar a imprensa — que os valentes chamam “mídia” — de “antipetismo”. Trata-se de uma ação calculada, com frutos garantidos. O objetivo é intimidar os veículos de comunicação, que, então, para demonstrar que a acusação é falsa, fazem pender ainda mais o noticiário para a banda… petista! Leiam esta notícia da Folha:
PT diz que mídia faz “guerra de extermínio” ao partido
Por Ranier Bragon:
A Executiva Nacional do PT aprovou ontem em Brasília um documento político em que acusa a mídia e “amplos setores do empresariado” de terem se aliado à oposição para reacender o escândalo do mensalão e promover uma “guerra de extermínio” ao partido.
O texto é assinado pelo presidente do partido, José Eduardo Dutra, e ainda pode ganhar emendas no encontro do Diretório Nacional do PT, que será realizado hoje.
“Faltam projeto e base social à oposição neoliberal, mas ela ainda tem fortes aliados em amplos setores do empresariado, particularmente da mídia, que já começam a criar factoides e falsos escândalos visando enfraquecer nosso projeto”, diz o documento petista.
“Os recentes episódios envolvendo denúncias vazias contra dirigentes petistas comprovam que a guerra de extermínio ao PT, deflagrada em 2005, está longe de acabar.”
Embora não faça citação direta, petistas disseram à Folha que a menção se refere a acontecimentos recentes: a revelação, feita pela Folha, de que o ex-ministro José Dirceu recebeu ao menos R$ 620 mil de grupo empresarial com interesse na reativação da Telebrás, e reportagens das revistas “Época” e “IstoÉ” sobre investigações do mensalão que citam o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT).
Refere-se, também, a reportagem da Folha que mostrou que o governo não cumpriu o prazo prometido em três de cada quatro principais ações do PAC, gerenciado por Dilma Rousseff (PT).
O encontro de ontem teve também o objetivo de aprovar resolução para tentar enquadrar as seções estaduais do partido que estão rachadas na escolha do candidato ao governo ou ao Senado.
A ideia é impedir a realização de prévias, mesmo que para isso os encontros estaduais tenham de ser adiados.
Comento
Façam, então, o seguinte teste: peguem os jornais de hoje (a Folha em particular) — e os sites dos grandes veículos — e façam aí uma tabelinha: contem quantas são as notícias e colunas favoráveis ao “projeto do PT” e quantas são as favoráveis, vá lá, às oposições.
Essa abordagem do PT não é recente, sabemos. O “x” da questão não está aí. O problema é outro: esse tipo de acusação funciona. Tanto é assim que boa parte do “colunismo” e da cobertura política se esmera para ser “isenta”. E ser “isenta”, no caso, quer dizer ser crítica a José Serra. Em alguns casos, boçal!
De novo: vocês não precisam acreditar em mim; acreditem no que seus olhos lêem. Segundo a reportagem, um dos “alvos” da crítica é a Folha. Acusar esse jornal de antipetismo seria só uma estupidez não fosse um cálculo.
Não se pode falar em governo Lula deichando de fora os escandalos sucessivos de desvios de verbas e corrupção ativa.