Por mais que os holofotes se voltem para São Paulo – onde o candidato do PT à prefeitura, Fernando Haddad, testará mais uma vez a fama do ex-presidente Lula de eleger quem bem entender para o cargo que desejar – é em Belo Horizonte que se joga um dos lances mais interessantes desta campanha municipal.
Pelo menos naquilo que diz respeito à comparação de forças com vistas à disputa presidencial de 2014. Ali, o senador Aécio Neves (do PSDB) e o ministro Fernando Pimentel (do PT) construíram em 2008 a mais improvável de todas as alianças municipais.
Em qualquer outro lugar do Brasil, um acordo entre PT e PSDB seria tão difícil quanto encontrar, nas arquibancadas do Pacaembu anteontem à noite, um corintiano com a camisa do Boca Juniors – mas sob a bênção de Lula a mistura funcionou em Minas Gerais.
E o candidato Márcio Lacerda, do PSB, acabou eleito. Recordar aquele acordo é fundamental para compreender o comportamento de Aécio nas eleições presidenciais de 2010, inclusive no que se refere à sua recusa em sair candidato a presidente contra a então ministra Dilma Rousseff, indicada por Lula.
Seja como for, Aécio (conforme os integrantes mais próximos de seu grupo gostam de dizer) se empenhou a ponto de garantir para José Serra, em Minas Gerais, uma votação bem mais expressiva do que a obtida por Geraldo Alckmin contra Lula em 2006. Porém, bem inferior à de seu candidato, Antonio Augusto Anastasia, na disputa do governo estadual e à dele próprio na briga pelo Senado.
Só que, agora, é o próprio Aécio que está na linha de frente. Ele está se mexendo e é quase certo que terá a legenda do PSDB contra Dilma Rousseff em 2014. Manter a velha aliança – que parecia assegurada até a semana passada – passou a ser visto no próprio Palácio do Planalto como uma forma de dar forças a um adversário. E a saída foi o lançamento do nome do ex-ministro Patrus Ananias para enfrentar Lacerda.
Trata-se de um petista histórico, muito respeitado em Belo Horizonte, mas que já não pretendia mais se candidatar a cargos eletivos até ser escolhido pelo Diretório Nacional de seu partido para disputar votos com um prefeito muito bem avaliado, que tenta a reeleição e tem o apoio de um cabo eleitoral que, em Minas, tem sido mais forte do que o próprio Lula.
O maior impacto talvez se dê sobre a administração da cidade. Desde que o mesmo Patrus foi eleito prefeito da capital mineira, há exatos 20 anos, derrotando o próprio Aécio Neves nas eleições de 1992, o PT está presente na administração da cidade.
Tem muito petista no escalão da administração municipal que, por assim dizer, nunca teve outro emprego na vida. E que agora, com o rompimento da aliança, corre o risco de ir parar no olho da rua. (Até o momento, nenhum deles entregou o cargo em obediência à decisão partidária).
Gastar munição do calibre de Patrus para disputar a eleição com Márcio Lacerda mostra a intenção petista não só de vencer o pleito, mas, também, de mostrar que, para o PT, a sucessão presidencial já começou. E que a campanha irá muito além do esforço já anunciado de até morder a canela alheia para derrotar José Serra em São Paulo.
Fonte: Brasil Econômico, 06/07/2012
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