A Embraer demitiu, em função da crise e rebaixamento dos pedidos, 20% do seu efetivo, o que equivale a cerca de 4.200 trabalhadores. Para uma empresa, a decisão de demitir é uma das mais dolorosas. Há um custo financeiro (multa de FGTS, férias), emocional (o clima da “rádio-peão”) e administrativo, já que saem funcionários treinados e familiarizados com o trabalho.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva politizou o assunto. Não se sabe se por ainda acreditar que a crise é apenas uma marola ou para fazer cena, Lula mandou divulgar que reagiu indignado às demissões da Embraer e que “não foi avisado.” Chegou a se reunir com a direção da empresa apenas para ouvir o óbvio: as demissões são inevitáveis com a queda em 30% dos seus pedidos programados.
No mundo real, uma empresa mantém sua sustentabilidade, ajustando-se rapidamente às condições de mercado. Isso vale tanto para cima, aumentando sua produção e ganhando mercado mais rápido que os demais concorrentes, quanto para baixo, reduzindo custos e adaptando-se a uma demanda menor, ou tentando diversificar os negócios. Imaginemos uma pizzaria que produz, todas as noites, 100 pizzas para um rodízio. Se a quantidade de clientes cair em 30%, só um louco continuaria produzindo as 100 pizzas por noite, jogando fora 30 discos de pizza. A pizzaria pode até tentar diversificar seus produtos, investir em marketing, tentar reverter essa tendência, mas até ter o salão mais cheio, não pode ficar jogando pizza fora.
No caso da Embraer, com a economia dos seus clientes afundando, é inevitável ter contágio. Manter os funcionários, por mais desejável, seria igual a jogar fora as 30 pizzas – nesse caso, medido em horas-homens de trabalhadores. O que isso resultaria? Em menor competitividade, o que poderia resultar em maior dificuldade de fechar novas encomendas. No limite, pode não sobrar empresa nenhuma se ela não estiver livre para se adaptar às mudanças econômicas. A intervenção da Justiça do Trabalho ou de Lula, tentando reverter uma decisão econômica, apenas atrapalha ainda mais o mercado de trabalho no País – engessado, atrasado, burocrático e intervencionista.
Vai ver o presidente tem como referencial às ilhas da fantasias estatais, que, no prejuízo, sempre podem ser socorridas com dinheiro do Tesouro, ou seja, do contribuinte. Talvez “só” ser “dono” de Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste, BNDES, Banco da Amazônia, Eletrobrás, Petrobras, Infraero, Serpro, Valec, Correios, Dataprev, CBTU, Hemobrás, EPE, EBC, Nuclep… – uma lista que segue quase que ad infinitum – seja pouco. Faz lembrar uma das várias frases lapidares de Roberto Campos: “No Brasil, a empresa privada é aquela que o governo controla, a pública é aquela que ninguém controla.”
(Jornal do Commercio de PE – 01.03.2009)
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