Em entrevista ao Instituto Millenium, Hugo Ferreira Braga Tadeu, professor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, analisa o andamento das obras públicas no Brasil.
O economista critica a falta de planejamento da atual gestão e sugere a adoção de modelos mais eficientes de investimento em infraestrutura, como nos casos da Alemanha, na Copa de 2006, e das Olimpíadas de Londres, em 2012.
“No caso inglês, o gasto público foi inferior ao estimado, inclusive com as instalações sendo utilizadas atualmente pela população”, afirma.
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Instituto Millenium: A ausência de planos bem definidos, o não cumprimento de cronogramas e a falta de fiscalização são problemas recorrentes nas obras do governo. Como o senhor avalia a questão do planejamento no Brasil? Que tipo de perdas estão associadas à falta de planejamento?
Hugo Ferreira Tadeu: A falta de planejamento é um problema recorrente e cultural no Brasil. Não estamos acostumados a planejar, no sentido exato da palavra, as nossas atividades. É muito comum observar grandes projetos que usualmente apresentam atrasos na sua entrega por ausência de um cronograma bem estruturado e, principalmente, de um orçamento bem definido.
Como consequência, citando o exemplo das obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas, temos estádios, aeroportos, estradas e, principalmente, a desconfiança do investidor internacional abalados. O grande prejudicado é o cidadão, dada a baixa qualidade da entrega das obras e da melhoria da qualidade de vida outrora prometida.
Imil: O que o atraso na entrega das obras revela sobre o atual modelo de gestão política?
Tadeu: É um modelo extremamente centralizador e que apresenta claros sinais de baixo planejamento. O resultado é uma elevação do gasto público, risco inflacionário e, novamente, a desconfiança do investidor internacional com a capacidade de execução do Brasil.
Imil: Em muitos casos, a urgência em entregar obras que já deveriam ter sido concluídas acaba interferindo na qualidade do projeto. Existe alguma punição legal para impedir que esse tipo de situação aconteça? Qual é a solução para o problema?
Tadeu: A punição são multas e até mesmo o cancelamento de contratos, conforme a lei das licitações prega. Como algumas obras apresentaram a dispensa da licitação e a especificidade da engenharia, como no caso dos aeroportos trás consigo um baixo número de empresas aptas à execução das tarefas, tem-se um aumento do gasto e o risco da sua não entrega, pela baixa capacidade de supervisão do poder público aos projetos atuais.
Imil: O senhor conhece algum modelo mais eficiente de realização de obras públicas adotado em outros países que possa ser adaptado para o Brasil? Qual seria o modelo?
Tadeu: Modelos eficientes como os acompanhados na Alemanha, quando da Copa do Mundo, e, recentemente, em Londres, para as Olímpiadas, trazem consigo a gestão pública como pública e social no sentido rigoroso da palavra. Os gestores do governo trabalham com máxima eficiência, em busca do melhor resultado para a comunidade.
No caso da Alemanha, as obras já estavam prontas dois anos antes dos eventos esportivos, com todo um planejamento para depois dos eventos. No caso inglês, o gasto público foi inferior ao estimado, inclusive com as instalações sendo utilizadas atualmente pela população. Ou seja, além da gestão, tem-se a questão do bom senso da execução das tarefas e percepção de bem estar para a sociedade.
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