*Deborah Palma
A retórica econômica do governo através de contradições fiscais e políticas, expõe sobre seus interesses políticos em vez de um projeto consistente de país. Governos tendem a repetir que estão estabelecendo uma “guerra contra os super-ricos”. Porém, é importante ressaltar que quando analisamos logicamente, percebemos que essa narrativa é mais uma cortina de fumaça para enganar quem não acompanha os detalhes.
Em primeiro lugar, chamam de “super-rico” quem ganha acima de 50 mil reais por mês. Ora, em termos absolutos, esse valor não significa luxo em um país de moeda fraca e serviços precários. Em termos relativos, é claro que essa faixa corresponde ao topo da renda brasileira, mas isso diz mais sobre a pobreza geral do país do que sobre a riqueza real dessas pessoas.
Em segundo lugar, estamos diante de uma arrecadação recorde. Como evidência disso, só em 2024, a União arrecadou R$2,65 trilhões em impostos, quase 10% a mais do que no ano anterior. Ainda assim, a dívida pública não para de crescer.
O governo justifica a taxação adicional sobre dividendos e altos salários como forma de restituir a isenção para quem ganha até 5 mil reais. Em contrapartida, o discurso de que os mais ricos pagam, em média, apenas 2,5% de imposto, escolhe ignorar um ponto crucial de que os dividendos distribuídos já foram tributados nas empresas, com alíquotas que variam entre 34% e 45%. Em outras palavras, a conta está sendo feita de forma conveniente para sustentar uma narrativa de “justiça social”.
A verdade é que o problema do Brasil está na arrecadação excessiva em comunhão com o gasto público desenfreado. O contraste entre o que o brasileiro paga e o que recebe em serviços públicos é um vexame. Em 2024, o Brasil arrecadou mais de 32% do PIB em impostos, mas os resultados não acompanham essa carga.
De acordo com a 14ª edição do Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade (IRBES), publicada em maio de 2025 pelo IBPT, o Brasil ocupa o último ranking entre os 30 países com maior carga tributária, pela 14ª vez consecutiva no critério de retorno social dos impostos. O país lidera como aquele que menos transforma arrecadação em qualidade de vida para sua população. Além disso, para cumprir obrigações tributárias, uma empresa gasta em média 1.500 horas por ano, contra menos de 200 horas em países da OCDE.
O peso do Estado também se confirma no gasto com funcionalismo, visto que 13,4% do PIB custeia a máquina pública, no qual é muito acima da média dos países desenvolvidos, que gira em torno de 10%. Isso significa que o Estado brasileiro consome recursos ampliados para fomentar a própria máquina pública e perpetuar privilégios.
A trajetória fiscal é alarmante é um reflexo da negligência do Estado. Prioritariamente, a dívida bruta já atinge 77,6% do PIB, acima da média de países emergentes, e os gastos com juros chegaram a absurdos R$941 bilhões em 12 meses. Isso evidencia de forma irrefutável que a crise não é de receita, mas de despesa. O juro elevado é consequência da irresponsabilidade fiscal porque enquanto o governo gasta sem limite, o Banco Central precisa manter a taxa básica em níveis altos para conter o risco de descontrole inflacionário.
É fato que num país onde 9,1 milhões de brasileiros não sabem ler nem escrever e onde 29% da população entre 15 e 64 anos é analfabeta funcional, a manipulação com frases de efeito e “guerra de classes” se torna fácil, mas não legítima. É fácil manipular o debate com slogans rasos e frases de efeito com a maior parte da população iletrada e com deficiência de leitura e interpretação. O ponto crucial é que para a descoberta da verdade, na realidade exige raciocínio, lógica e responsabilidade.
O peso da carga tributária sobre o cidadão também é sufocante. O brasileiro trabalha em média de 149 dias do ano apenas para pagar impostos, onde 40.82% da sua renda vão para impostos, taxas e contribuições e 22.73% (83 dias trabalhados) vão para os impostos sobre o consumo. Em outras palavras, todo o esforço dedicado ao seu trabalho de janeiro até o fim de maio é dedicado exclusivamente ao governo. E o que recebemos em troca? Hospitais caindo aos pedaços, estradas esburacadas, escolas com desempenho pífio e uma insegurança que destrói famílias e empresas.
É importante acrescentar que não surpreende que o Brasil esteja classificado como uma economia “majoritariamente não livre”, com apenas 55 pontos no Índice de Liberdade Econômica de 2025, ocupando a 117ª posição no ranking global. A burocracia, as leis trabalhistas engessadas inspiradas na Carta del Lavoro (um documento de 1927 italiano e fascista de Benito Mussolini) e a intervenção estatal minam qualquer chance de crescimento sólido. Enquanto não houver um ambiente de livre mercado, com segurança jurídica e respeito à propriedade privada, o país continuará preso ao atraso.
Em última análise, o aumento de impostos não é a solução. Torna-se indispensável um Estado enxuto, eficiente e que gaste menos para a sociedade prosperar. A conta já não fecha há muito tempo, e a farsa da “guerra contra os ricos” só serve para fomentar a ignorância e mascarar o verdadeiro inimigo: o Estado grande, gastador e ineficaz.