Há quem diga que o ministro da Fazenda tem pouco apreço pela verdade, mas a meu juízo ele possui imaginação poderosa capaz de escrever novelas românticas e policiais, por exemplo, para aplaudir sua política ao afirmar que a economia está em aceleração gradual, ao mesmo tempo em que reconhece que os estímulos fiscais estão demorando a gerar os efeitos projetados e tudo que se passou é fruto da crise externa; não é só, para o douto ministro o crescimento do PIB no quarto trimestre de 2012 será na ordem de 4%. Como se vê, deve tratar-se de um milagre, pois ao cabo de dois anos, oito trimestres, o crescimento do PIB não tem chegado a 1% e a indústria continua com seus projetos engavetados; eles existem, mas os empresários, cuidadosos, com seu saber da experiência feito, aguardam dias mais favoráveis para dar-lhes vida. A real expressão do quadro pode ser medida com as projeções para o trimestre em curso; estava em 2%, caiu para 1,5%, sua estimativa minguou para 1,4%, e por fim ficou reduzida para 1,3% e analistas calculam em 0,2% o crescimento do PIB no ano.
É claro que esses dados não são definitivos, mas indicativos da direção que se vem mantendo, de modo que as previsões ministeriais mais parecem devaneios do que apreciações objetivas. Enquanto isso a carga tributária asfixiante vai sendo erodida em relação a um setor, com prejuízos aos demais, quer dizer, não é solução, mas contrafação.
E o último pacote, o oitavo e nono, já nem sei a numeração, é a demonstração da realidade esboçada. Faz lembrar a reiteração dos viciados em drogas. Depois de algum esforço liberatório, o dependente se entrega à droga. Quando a estagnação assusta o governo, ele recorre à redução tributária e financiamentos mais convidativos e os pátios congestionados se esvaziam; mas os fabricantes não cessaram de fabricar, e os carros, outra vez, enchiam os pátios, e a medida foi renovada em caráter transitório e assim por diante; a mais recente vai até o final do ano, se não estou em erro. E volto a dizer que a providencia transitória vai se tornando permanente. Até quando? Esta a questão. A medida é como fogo de palha, seus efeitos duram pouco, mas seus ônus vão se tornando tangíveis, a inadimplência, a devolução de veículos, a atrofia do mercado de veículos usados…
As medidas transitórias já se tornaram permanentes, ainda que espaçadas, e a tendência é para sua continuada e obrigatória reprodução. Mas isso vai empurrando a solução óbvia que efetive a redução e consequente atenuação da carga tributária. É de notar-se que, embora não se trate de reforma tributária, com as repetidas medidas emergenciais, a arrecadação federal tem pago seu tributo. Trata-se do governo asfixiando o próprio governo. E nunca se deve esquecer que as medidas adequadas e tempestivas não realizadas oportunamente terminam se tornando mais onerosas à sociedade, porque os fatos não cessam de ocorrer agradem ou não aos governos que têm de conviver com eles.
Os fatos, sempre os fatos, estão a mostrar que a crise é bem maior do que inicialmente parecia e seus efeitos não capitularam diante dos tabiques locais e a marolinha (sic) está incomodando o país, mais do que se supunha pudesse fazê-lo.
Continuo a pensar que, embora não cheguem a ser catastróficos, não devem ser menosprezados; até porque podem aumentar quando menos se espera e surpreender mesmo os mais avisados.
Fonte: Zero Hora, 10/09/2012
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