Ao longo dos oitos anos do governo de Lula, o crescimento foi relativamente elevado, com uma alta média do PIB de 4% anuais. Minha interpretação foi que a aceleração do crescimento nesse período resultou principalmente da maturação de um conjunto de reformas institucionais que elevaram a eficiência da economia.
Simultaneamente à aceleração do crescimento, os anos Lula foram caracterizados por juros reais elevados, apesar da queda do risco-país.
Na era Lula, os juros elevados eram sintoma da saúde da economia, resultando da elevação do investimento. Este, por sua vez, era decorrência da aceleração do crescimento e da produtividade, em uma sociedade de baixa poupança.
Essa é a maior diferença entre os tigres asiáticos e o episódio de aceleração do crescimento brasileiro nos oito anos de Lula.
Nos tigres, a elevação da taxa de crescimento e do investimento é acompanhada por aumento da taxa de poupança.
No Brasil, não há essa mesma relação. Aqui, a política funciona no sentido de tomar medidas que impeçam que episódios de aceleração do crescimento e do investimento sejam acompanhados pela alta da taxa de poupança.
Um exemplo é a política de valorização do salário mínimo: quando o crescimento se acelera, a velocidade de elevação do salário aumenta, e, com ela, o gasto do governo, reduzindo o componente público da poupança.
O ajuste acaba ocorrendo na taxa de juros, que tem de ser elevada para compensar a baixa poupança em uma economia na qual o investimento cresce aceleradamente.
A baixa poupança para um investimento crescente produz excesso de demanda e, portanto, aceleração da inflação. Os juros mais elevados são necessários para esfriar a economia e manter a inflação sob controle.
Ou seja, os elevados juros reais nos oito anos do governo Lula resultaram do rápido crescimento associado a uma política econômica que neutraliza a natural tendência de elevação da taxa de poupança que tipicamente ocorre nos episódios de aceleração do PIB.
Nesse período, alguns economistas criticaram fortemente o regime de política econômica vigente. Argumentavam que o combate à inflação era tão importante que não poderia ser enfrentado com um único instrumento, a taxa Selic. Esses economistas acreditam que há alguma outra maneira de controlar a inflação que não seja pela política monetária. Eles não se conformam com o fato de que o juro tem de subir quando o investimento se eleva numa economia de baixa poupança.
Esses analistas, portanto, defendem que algum tipo de controle direto de preços seja empregado no combate à inflação.
O exemplo paradigmático da política de controle direto de preços foi o congelamento da gasolina por quase seis anos. Os reajustes recentes em níveis muito inferiores à defasagem doméstica da gasolina em relação aos valores internacionais indicam a continuidade da política de controle da inflação por meio de controle direto de preços. As inúmeras desonerações também são sinais dessa política.
O controle direto do preço da gasolina tem causado pelo menos quatro problemas. Primeiro, tem prejudicado a receita e a rentabilidade da Petrobras, dificultando os planos de investimento da empresa. De fato, há anos a empresa não consegue atingir as metas de produção por ela mesma estabelecidas.
Segundo, prejudicou o crescimento do setor sucroalcooleiro.
Em terceiro, estimula o uso do transporte individual, contribuindo para congestionar as ruas.
Finalmente, dois terços da piora da balança comercial neste ano, em comparação a 2012, que teve superavit de US$ 15 bilhões, resultam da deterioração da balança comercial de petróleo e derivados.
Um fator adicional é que, muito provavelmente, os desajustes produzidos pela desastrada política de controlar a inflação por meio do controle direto de preços explicam em parte a maior desvalorização do real desde maio, quando os juros longos norte-americanos iniciaram a trajetória de alta. E a maior desvalorização do real coloca lenha na fogueira da inflação.
Assim, o resultado da estratégia de controle de preços é que a inflação está firme e forte, caminhando para fechar o ano acima de 6%. E a taxa Selic sobe.
Fonte: Folha de S. Paulo
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