Em uma entrevista exclusiva para o Instituto Millenium, nossa Assessora Executiva e mestre em economia, Milla Maia, explicou pontos importantes sobre a alta no preço da gasolina e as atuais movimentações da Petrobras. Confira:
Por que a gasolina está tão cara? A tendência é subir mais ainda os preços?
O preço da gasolina é formado pela variação do petróleo, que por sua vez é formado pela variação internacional do preço – uma paridade internacional. Com a crise que está acontecendo no conflito entre Rússia e Ucrânia, o preço tende a aumentar. Acontece também que esse preço é taxado em dólar, então a partir do momento que o dólar sobe, o preço do petróleo aumenta para nós aqui no Brasil. Além disso, esse petróleo, em reais, chega na Petrobras pelo valor do custo do produto. Sem contar os impostos, o preço dos outros insumos da gasolina e o ágil da distribuição, que a estatal coloca. Em resumo, a gasolina final é muito impactada pelos impostos, pelo preço do petróleo e pela variação do câmbio.
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Em 2021, a Petrobras teve lucro recorde, e o governo quer usar parte desse dinheiro para subsidiar o preço dos combustíveis. Seria uma forma de devolver aos brasileiros um recurso que já deveria ser seu por direito?
Não necessariamente, porque o carimbo desses recursos são da educação e da saúde, então o que o governo quer fazer é desviar esses investimentos de uma área para a outra, através de um pedido de excepcionalidade, por causa da guerra na Ucrânia. A Petrobras, sendo uma estatal, e ficando à mercê das decisões do Estado, é muito prejudicada pelo excesso de intervenções. Deveriam ser feitas boas reformas, que trouxessem mais investimentos estrangeiros pro Brasil, para que nosso câmbio se valorizasse, e naturalmente esse valor do petróleo, em reais, diminuísse. Mas a preocupação é sempre apagar o fogo, com soluções que parecem mais fáceis do que melhorar o país como um todo.
É mais ou menos o que ocorreu no governo Dilma, quando sua política de contenção de preços causou um prejuízo de cerca de R$ 100 bilhões à Petrobras?
O que causou um prejuízo de quase R$ 100 bi no governo Dilma foi que não havia paridade de preços internacionais. Não se queria fazer essa paridade de preços da gasolina, que tem como um dos principais insumos utilizados para sua produção o petróleo – cotado em dólar.
Então, como você faz a sua gasolina, que para boa parte da sua produção é utilizado um produto que tem a cotação em dólar, sem querer utilizar uma comparação com o valor internacional? É diferente do que o governo Michel Temer fez. Não dá para querer fazer uma modificação em algo que, infelizmente, tem que ser assim. Se o preço internacional está cotado assim, e a nossa moeda está desvalorizada ao ponto de ter uma relação real/dólar dessa forma, a gente tem que trabalhar para valorizar nossa moeda. Se isso não ocorre, vamos fazer as reformas. Mas dar subsidio, tentar fazer essa paridade, é tapar o sol com a peneira, não vai adiantar. Simplesmente, a gente vai estar prejudicando uma de nossas maiores empresas estatais, para tomar uma medida temporária que não vai solucionar por muito tempo. Não adianta isso. Tem que fazer reformas estruturais no país.
Como você acha que os investidores verão essa medida? Qual o provável impacto dela no mercado financeiro?
A parte da estatal que está negociada em bolsa pode sofrer um terrível impacto, porque os investidores estão de olho em performance. Se você prejudica a performance da empresa, os investidores não são obrigados a ficar. Eles podem vender sua participação, como foi no governo Dilma, quando grandes investidores mandaram cartas para o Conselho, reclamando que se continuassem fazendo esse tipo de coisa, iam sair. A partir do momento que esses investidores vendem suas ações, isso vai desvalorizando mais ainda a empresa no mercado, na bolsa. Do que adianta você ajeitar uma ponta, diminuir o valor da gasolina na bomba, mas desvalorizar a empresa no mercado? Melhora uma ponta e piora outra.
Qual a melhor maneira de reduzir o preço dos combustíveis, de maneira sustentável?
Precisamos de reformas urgente para melhorar a situação de longo prazo do país. Uma reforma administrativa, uma reforma tributária, uma reforma política. Coisas que melhorassem a situação do país, passassem confiança internacional, e a mensagem de que o nosso país consegue crescer de forma sustentável, e consegue administrar suas contas, gerenciar sua dívida.
Mas começa que já erramos com toda a questão do nosso teto de gastos, passamos coisas que não deveriam ter passado. Porém, com reformas bem feitas, a gente pode atrair capital estrangeiro e melhorar a nossa relação real/dólar, o que melhoraria muito a importação de produtos, dos commodities para a produção da indústria, reduziria o valor do produto final para o consumidor, além de diminuir os custos para o produtor.
As reformas – política e administrativa-, também passariam confiabilidade e diminuiriam os gastos do governo. O governo brasileiro arrecada bastante, mas gasta muito mal. Boa parte dos gastos é com folha de pagamento, então precisa dar uma olhada nisso também. Mas simplesmente não há interesse em fazer reformas, isso fica engavetado, e vai andando com medidas populistas, de apagar incêndio, e assim vai tocando.
Milla Maia, é graduada pela FGV/EBAPE, especialista em Finanças pela Saint Paul, Mestre em economia pela FGV/EESP, além de ter cursado Finanças Internacionais pela Bocconi/Itália e Finanças Comportamentais na Universidade de Chicago/EUA.