O alemão Klaus Schwab é conhecido por organizar o Fórum Econômico Mundial, que ocorre todos os anos na cidade de Davos, na Suíça, e reúne a elite empresarial e política do mundo. Desde 1971, o encontro promove o debate de grandes temas globais. Para Schwab, um liberal convicto, uma das grandes questões da atualidade é a necessidade de repensar a globalização. “Os benefícios da globalização só serão sustentáveis se garantirem a igualdade de oportunidades”, diz Schwab, que recentemente lançou no Brasil o livro “A quarta revolução industrial.”
Um relatório recente do Fórum Econômico Mundial estima que 5 milhões de empregos serão perdidos até 2020 por causa de novas tecnologias de automação. Como enfrenta esse desafio?
Klaus Schwab: O que estamos vendo é a evolução da revolução digital. Falo de áreas como a de inteligência artificial, as neurotecnologias e a impressão 3D. Essas tecnologias terão um impacto cada vez maior. É o que chamamos de a quarta revolução industrial. Como enfrentar o eventual desemprego que ela poderá gerar? Os governos precisam melhorar o ambiente de negócios, investir em educação e em políticas inclusivas.
Como essa transformação poderá afetar os países emergentes, como o Brasil?
Klaus Schwab: O Brasil não está sozinho. Todos os países têm o desafio de garantir a prosperidade para toda a população. Não se pode descuidar dos fatores que servem de base para a competitividade: ter instituições transparentes e livres de corrupção, investir em infraestrutura e contar com um mercado em bom funcionamento.
Alguns economistas dizem que a tecnologia digital não aumenta a produtividade. O senhor concorda?
Klaus Schwab: É verdade que a inovação das últimas décadas não trouxe ganho de produtividade. Mas acredito que isso mudará. Estamos prestes a ver um renascimento em termos de inovação.
Se o senhor estiver certo, como será essa nova era?
Klaus Schwab: Já enfrentamos novos desafios em áreas como privacidade, criação de empregos e ética. Por isso, defendendo a ideia de uma nova revolução ideológica.
Como seria essa revolução?
Klaus Schwab: Acredito que o capitalismo será substituído pelo “talentismo”, um sistema econômico com base no talento, e não no capital. Seus atributos serão mais liberdade individual, mais responsabilidade social, um processo de educação que dure a vida inteira inteira e mais respeito à diversidade.
É possível pensar nesse cenário num momento em que a globalização perde força?
Klaus Schwab: O mundo hoje é diferente do período entre 1989 e o início desta década, quando a cooperação internacional floresceu. Os últimos anos foram marcados pelo crescimento do nacionalismo e por uma maior competição entre os países. Porém, isso não marca o fim da ordem liberal.
A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia não é um sinal de fraqueza da globalização?
Klaus Schwab: O resultado do referendo marca um revés no processo de integração global das últimas décadas, cujo principal modelo é a União Europeia. Mas serve de lembrete de que os benefícios da globalização só serão sustentáveis se garantirem a igualdade de oportunidades para todos.
Fonte: “Exame”, 26 de outubro de 2016.
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