Tomei uma multa na estrada que vai de Firenze a Pisa – a Fi Pi Li – e a cobrança do Detran italiano chegou. Encurtando uma novela, o pagamento via transferência bancária, além de burocrático e caríssimo, me revelou, mais uma vez, a extensão de nossa imensa distância até o Brasil alcançar um estágio normal de fluxos cambiais.
Ainda, refletimos, na nossa legislação atual, os fantasmas passados da crônica ou aguda falta de divisas. Fazemos importação de câmbio com um tubulão instalado na boca da recepção de dólares, enquanto travamos a saída de moeda estrangeira com um tubo do calibre de um mero canudinho, como se exportar moedas fosse um crime (aliás, em boa medida ainda é) contra a economia nacional.
Em parte, essa é a razão de o real ter se valorizado tanto, nos últimos anos, com a forte acumulação de divisas. Mas nunca esquecendo a razão principal de tamanha distorção, que é nossa insistência em praticar juros em nível de devedor de qualidade duvidosa, pagando muito fora da nossa curva de risco para rolar a dívida interna.
A situação internacional não para de se deteriorar. As paquidérmicas entidades multilaterais derrubam agora, às pressas, suas previsões estupidamente otimistas de até um mês atrás, em que insistiam num impossível cenário de recuperação dos países endividados de alta renda.
Nada de novo aconteceu, mas a ficha finalmente caiu na cabeça do mercado. A inversão de expectativas tem sido brutal, a ponto de secar fontes de financiamento bancário nos EUA e Europa até para tomadores privados de primeira linha.
Não é um cenário de reversão fácil nem rápida, apesar dos vazios apelos do secretário do Tesouro Geithner, de Roubini, de Martin Wolff, e de tantos outros analistas importantes, sobre o imperativo de voltar a crescer. Esqueçam.
Devemos estar preparados para uma dura realidade de crise, à qual nosso Banco Central se antecipou com alto grau de profissionalismo, apesar das críticas do mercado contra a medida de baixar juros.
O ministro Mantega, da Fazenda, que advertira, em julho passado, em Londres, sobre a força da guerra cambial, agora tem o endosso indireto até da Suíça. Lá, a preocupação com a valorização excessiva do franco suíço fez o Banco Central fixar um patamar mínimo de intervenção, a 1,2 francos por dólar. No Brasil, não chegamos a tanto.
Usamos o IOF para desestimular as aplicações mais especulativas. A Coreia acaba de anunciar um imposto semelhante, com alíquota de 14%, mais do que o dobro da nossa. Mais uma vez, a autoridade brasileira se antecipou bem.
Mas, como afirmou o ministro da Fazenda, a guerra monetária ainda vai assombrar o mundo, afetando a capacidade comercial dos menos preparados. Dilma também prometeu brigar pelo que é nosso, na sua fala à nação, de anteontem.
Mas falta ao governo a assertividade de adotar um plano mais radical de simplificar o manicômio tributário e tornar mais eficiente o gasto público. Pelos cálculos do MBE, o PIB poderia com isso ganhar um ponto percentual adicional por ano, mais R$40 bilhões de produção. Essa, sim, seria nossa grande arma contra o contágio na guerra mundial das moedas.
Fonte: Brasil Econômico, 09/09/2011
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