Na terça-feira (4), o Conselho Nacional de Educação aprovou a parte da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) correspondente ao ensino médio. Com isso começa a se concluir a tarefa de tentar resolver um dos muitos motivos pelos quais não temos uma educação de qualidade para todos: a ausência de uma definição mais clara dos direitos de aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens.
O Ministério da Educação ainda precisa homologar o trabalho do Conselho Nacional, os estados e escolas precisarão traduzir a Base em currículos e lidar com a desafiadora tarefa de definir a sua parte diversificada, ou seja, os diferentes itinerários formativos.
Há que se comemorar o feito, a despeito das polêmicas que cercaram a elaboração desta parte da BNCC e das dúvidas que ainda persistem.
Temos um ensino médio que conta ainda, em média, com apenas quatro horas de aula, nas quais tentam se esparramar 13 disciplinas —diferentemente do que fazem os melhores sistemas educacionais do mundo. Isso faz com que cada aluno receba apenas um verniz de cada uma.
Não é por acaso que, embora nas avaliações o ensino fundamental venha mostrando melhoras (insuficientes, é verdade), o médio esteja estagnado, num patamar muito baixo.
Além disso, o currículo acabava sendo definido, como bem mostra Martin Carnoy, pesquisador da Universidade de Stanford, em publicações sobre a educação no Brasil, pelo livro didático.
Agora temos uma definição bem mais clara do que se espera que os alunos aprendam, da educação infantil até o final do ensino médio, que competências devem desenvolver e os possíveis diálogos entre as áreas.
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Li com atenção o texto da Base e creio que houve um grande progresso nesta versão frente à anteriormente discutida pelo conselho.
Há maior clareza nas expectativas de aprendizagem, a despeito de uma linguagem ainda academicista que tenderá a tornar desafiador o trabalho dos estados e escolas no processo de tradução da Base em currículos, e um pouco de modismos em alguns trechos do texto.
Mas, no conjunto, a Base traz algumas características ricas, além da definição mais precisa de competências e habilidades que todos devem desenvolver (o que é fundamental para a equidade), como a flexibilidade nos arranjos instrucionais, o que preserva a autonomia das escolas para experimentação e garante poder de escolha para escolas e alunos.
O que mais me agradou, por sinal, refere-se a eles. Ao enfatizar o projeto de vida do aluno e a importância de resolução colaborativa de problemas, a BNCC do ensino médio para de infantilizar os jovens e permite uma preparação melhor para o futuro do trabalho.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 07/12/2018