“A tecnologia de informação e de negócios estão se tornando inevitavelmente uma coisa só. Não creio que alguém possa falar sobre uma sem falar sobre a outra”. (Bill Gates)
A pirâmide que retrata a inclusão da pequena empresa brasileira no mundo digital é de ponta fina, quer dizer, tem poucas unidades em cima, no topo, devidamente incluídas, e uma base de milhões embaixo, separada dessas modernas tecnologias por uma distância abissal. O simples uso do computador para controle de estoque, de custos e de receitas ainda precisa ser muito estimulado.
A internet nasceu analógica e um número grande de pequenas empresas descobriu que poderia ter um site. Contrataram outras pequenas especializadas para lhes oferecer a novidade. Por analogia ao mundo real, transformaram o site em vitrine de produtos e serviços. Poucas foram além da vitrine. São raros os casos em que o site serve também para prospectar o desejo dos consumidores e de instrumento para aperfeiçoar a relação com clientes. A pequena empresa teve dificuldades mesmo para implantar uma boa vitrine virtual. Falta a maioria uma boa visão de marketing.
Visão de marketing, este é o grande ponto de inflexão. Existem pesquisas que demonstram à exaustão que uma das causas da grande mortandade de pequenas empresas no Brasil é, historicamente, a falta de visão de marketing. Quem tem visão de marketing tira proveito das novas tecnologias. Quem não tem fica para trás. Voltemos à pirâmide: a base trabalha no escuro, sem adequada visão de marketing e sem perceber, portanto, o quanto as novas tecnologias de informação seriam capazes de alavancar o próprio negócio. A base da pirâmide permanecerá nessa espécie de limbo e a enorme distância da modernidade. Não deveria ser assim, mas é assim.
Por ora, as preocupações governamentais são voltadas para permitir o acesso da internet nas residências. A meta é chegar em 2014, ano da Copa do Mundo, com 70% das residências ligadas, um objetivo inicialmente previsto para ser atingido em 2015. Enquanto a tramitação da lei que cria a Secretaria da Pequena Empresa se arrasta no Congresso Nacional, nada se pensa e nada se define para apoiar os pequenos empreendedores não apenas no uso profissional da internet mas também no uso profissional do próprio computador.
O Brasil que deseja crescer mais que as ridículas taxas que tem crescido será o grande beneficiário da inclusão digital, mas inclusão para valer, da pequena empresa. A internet pode representar uma economia de escala extraordinária para os pequenos empreendedores, na abertura de novos canais de venda, na melhora do atendimento, na gestão do negócio com o aproveitamento da chamada nuvem computacional (oferta de uma gama enorme de aplicativos para gerenciamento e outros a preços de commodities). Não há dúvidas de que caberia ao governo, como acontece há muito tempo em muitos outros países, incentivar esse processo em grande escala. O governo federal se mexe pouco e os governos estaduais e municipais, com algumas poucas exceções, nem sabem o que é e para que serve a inclusão digital da pequena empresa. Estão interessados exclusivamente em arrecadar mais impostos.
O desconhecimento do que é, como funciona, o que faz, o que não consegue fazer a pequena empresa ainda é muito grande em todos os escalões governamentais no Brasil. Vejam a presidente Dilma Rousseff e sua equipe de assessores econômicos: entregam-se a grandes esforços para produzir o crescimento econômico do Brasil e nem se lembram das pequenas empresas. Não a convocam; não oferecem a elas nenhum tipo de incentivo. É como se elas não existissem, não fossem responsáveis pela circulação da moeda, pela maioria dos empregos formais, por todos os empregos informais.
As novas tecnologias de informação, contudo, continuam a quebrar paradigmas, a revolucionar a economia, a oferecer novos caminhos e a propor novos desafios. A pequena empresa que não nasce dentro do mundo digital não consegue ter acesso a ele e operar dentro dele sem ajuda e instrumentação. A compreensão de como funciona o mundo digital é sofisticada, embora, teoricamente, todos possam tirar partido de suas oportunidades e benesses.
É sabido, por exemplo, que o chamado e-commerce – venda pela internet de mercadorias e serviços – tem crescido a taxas elevadas no Brasil. Pode vir a ser no futuro, como começa acontecer em muitos países, o tipo de comércio predominante. A pequena empresa, contudo, está parada no site; ainda não consegue tirar proveito das mídias sociais para incrementar vendas e marketing. A imensa maioria dos empreendedores ainda sequer enxerga as oportunidades que se instalaram
no bojo das mídias sociais.
Faltam programas efetivos, amplos, para instrumentalizar a base da pirâmide a entrar com mais força e tirocínio no mundo digital. A criatividade necessária o empreendedor brasileiro já tem. Tem de haver um programa que funcione como pedra de toque. É necessário ainda perceber que o pequeno empreendedor é geralmente uma pessoa que trabalha em demasia. O trabalho absorve de 14 a 15 horas de seu tempo útil todos os dias da semana e, em muitos casos, também nos fins de semana. Isto sugere que é preciso pensar em mecanismos que estimulem o pequeno empreendedor a participar dos programas de capacitação e estes devem ser oferecidos com boas condições de acesso.
A digitalização quebrou os paradigmas do analógico. Neste, a empresa era dona da porta da entrada e podia controlar o acesso. No mundo digital, desapareceram as portas de entrada. Todos já estão lá dentro e a empresa tem de estar preparada para conviver com seus clientes. Num mundo saturado por ofertas, não adianta simplesmente colocar mais uma delas. É preciso fazê-lo com criatividade. Tem de ser uma oferta que ofereça alguma vantagem e que chame a atenção diante de todas as demais pela originalidade.
Isto é também teórico: a pequena empresa tem melhores condições de tirar proveito das mídias sociais do que as médias e grandes.
A pequena tem processos de decisão mais rápidos e pode se apresentar no mundo digital com muito mais naturalidade, reagir com bom humor a provocações bem-humoradas, responder a eventuais críticas com maior autenticidade. Ainda há pouco tempo, por uma das mídias sociais, um internauta fez uma crítica a um grande banco brasileiro. Fez em versos, bem humorados. O grande banco respondeu também em verso, mas causou espanto. Foi sempre uma instituição séria, rígida, de modo que não conseguiu passar espontaneidade. Da pequena empresa se espera tudo porque seu relacionamento com clientes é sempre bastante informal.
É lamentável, portanto, que o tema da inclusão digital das micro e pequenas empresas não seja tratado com ousadia e como prioridade pelos governos. As vantagens para a economia do país podem ser enxergadas pelos resultados alcançados por certos arranjos produtivos locais (apls) e pelas pequenas empresas que passaram a infância e a adolescência dentro de incubadoras mantidas pelas entidades de classe com apoio do Sebrae. Tanto nos arranjos como nas incubadoras a inclusão digital aparece como requisito de exponencial importância.
Se a pequena empresa não é levada em consideração no esforço de reativar a economia, seus problemas não entram na agenda do governo federal a não ser de raspão. Ela não é levada a sério. Ao longo do tempo, tem sido atendida por ministérios que agem sob influência das grandes empresas. Os recursos nunca chegam à base da pirâmide. São desviados pelo caminho para atender as grandes empresas. Os estudos que devem levar à desoneração da folha de pagamento das pequenas se arrastam por aí e ninguém tem muita certeza de quando devem ficar prontos. O benefício da desoneração já foi concedido às grandes.
É claro que a inclusão digital das pessoas vai-se traduzir no futuro em maior inclusão das empresas. Em termos ideais, contudo, jamais deveríamos esperar que esse processo se completasse, naturalmente. A realidade mundial exige queima de etapas e aceleração. Dentro de mais dez anos, a grande massa das pequenas empresas no Brasil deve estar devidamente inserida no universo digital e tirando proveito de suas benesses. O próprio país corre o risco de ficar para trás no concerto das nações ao lado daquela base da pirâmide se não progredir na assimilação dessas novas tecnologias e no aproveitamento das oportunidades que oferecem.
muito bom … só acho difícil transferir a responsabilidade da falta de inserção satisfatória das pequenas empresas na web para o governo …
isso é um problema de planejamento estratégico das pequenas empresas que talvez se resolva logo … o que temos é uma cultura das empresas em não valorizar a internet … que
Segundo um levantamento da consultoria Masken 40% dos empresários brasileiros dizem que estar presente nas redes sociais NÃO agrega valor ao seu negócio.
talvez se resolva na próxima geração de empresários (pessoas que nasceram num ambiente em que a internet é não é um “ente estranho”)
Gabriel – No momento em que o governo federal tenta levar o país a alcançar taxas mais altas de desenvolvimento, ele distribui uma enorme gama de incentivos às grandes empresas. O que os governos precisam descobrir é que a pequena empresa dá resposta mais ágil e mais efetiva a qualquer tipo de incentivo. Só para citar um exemplo: uma grande empresa leva até seis meses para criar uma vaga de emprego; a pequena empresa cria mais um emprego de um dia para outro.