O Brasil é um país com muitas carências. Muitas vezes não é fácil; é preciso muita persistência, inteligência emocional e força interior. Sim, as coisas não caem do céu, mas também não precisavam ser tão difíceis. Aqui, você pode ter a ideia certa, no tempo certo, montar a estratégia certa, implementar corretamente e, mesmo assim, fracassar. Por quê?
A resposta é reta: nosso país não quer que as pessoas progridam honestamente.
Sem cortinas, o sistema brasileiro foi feito para afastar os éticos e premiar os imorais. E em um ambiente social que cada vez mais privilegia preços em vez de valores, a integridade da vida coletiva vai sendo paulatinamente corroída, minando a confiança necessária para a construção de vínculos duradouros. A realidade está posta: a cultura da malandragem sangra impiedosamente o Brasil. De roldão, a hemorragia traz consigo a desesperança e a tristeza de um povo cansado de ser insistentemente enganado.
De certa forma, ainda não saímos da Idade Média; somos milhões de vassalos a serviço de poucos senhores feudais. Para tentar sair da barbárie, a inteligência humana criou um mediador chamado Estado. O problema é que, com o tempo, a máquina estatal ganhou vida própria, abdicou de suas raízes históricas e deixou de cumprir suas principais finalidades. Ou seja, o Estado passou a ser uma razão em si mesmo, deixando de bem servir às pessoas. Apesar disso, segue querendo arrecadar mais para fazer cada vez menos. Enfim, a lógica da irracionalidade governa nossas vidas.
Quer dizer, então, que o Estado tem que acabar?
Ora, é claro que não. Vamos falar sério. Os assuntos públicos não podem mais ser debatidos com provocações, clubismo e infantilidades. Esse tipo de debate apenas atrasa o Brasil, estimulando o cinismo e a irresponsabilidade. Objetivamente, temos que ir além do raso. Se realmente queremos mudar nosso país, é imperativo colocar na ordem do dia os assuntos fundamentais e deixar as bobagens de lado. Feito isso, precisamos ter a coragem para falar a verdade e fazer o que é certo. Não dá mais para adiar o encontro dos fatos com a verdade. Nosso país não pode viver na mentira política.
Problemas se resolvem encarando-os e com foco nas soluções. A fuga apenas aumenta o saldo da dívida. E o mais grave: a fronteira tecnológica exigirá novas e mais complexas aptidões intelectuais. Logo, em um país que nem sequer consegue ensinar o básico para nossas crianças, a tendência é que o fosso social brasileiro aumente e a produtividade econômica diminua. Em resumo, estamos adentrando numa perigosa espiral de pobreza.
É preciso, portanto, colocar um ponto final nesta inércia do atraso. A decadência institucional brasileira está diretamente associada com a baixa adesão das pessoas que podem fazer a diferença positiva no mundo real. Não podemos mais terceirizar responsabilidades complexas para gente tacanha. Se não está claro, vou ser ainda mais direto: enquanto não tivermos melhores políticos, seguiremos sendo uma democracia à espera de um enredo decente.
Se a vida se faz vivendo, é porque mudanças precisam ser vividas. Chega de sonhos imaginários ou de mundos paralelos. Não há como querer um Brasil melhor, ficando no alambrado dos acontecimentos. O viver autêntico requer um protagonismo existencial. O comodismo é o refúgio ilusório dos covardes. Não podemos fugir da responsabilidade histórica de tentar mudar o Brasil. Hora de ir pro jogo ou de aceitar que perdemos sem jogar. No final, pense e responda: você prefere a independência do viver ou a escravidão das circunstâncias?
Fonte: “Estado de Minas”, 04/10/2017.
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