O mundo está mudando rapidamente. E, simultâneo à maneira com que nossas crianças e jovens aprendem, não há nada que acompanhe essa mudança de modo mais direto do que as perspectivas para o futuro cenário em que irão crescer, trabalhar e empreender.
Ao falarmos sobre o ingresso desses indivíduos no mercado, independente das posições a serem desempenhadas, dialogamos, em especial, com seus respectivos níveis de capacitação – que, para viabilizarem o florescimento de suas potencialidades, devem garantir com que não só estejam aptos a atuar no presente, mas também considerar as transformações iminentes.
Pensando a respeito da temática num quadro abrangente, o relatório “The New Work Order”, publicado há alguns anos pela Foundation For Young Australians (FYA), traz algumas reflexões interessantes. Dentre elas, há o apontamento de que três forças principais direcionam o trabalho no mundo contemporâneo: a automação, a globalização e a colaboração.
Nesse contexto, é estimado que 60% dos jovens nos colégios e universidades estão sendo treinados para papéis que serão radicalmente transformados pelas novas tecnologias – e, além disso, há a expectativa de que o avanço de tais tendências repercutam em torno de 70% dos atuais postos de trabalho até meados de 2030.
Assim, para a inevitável transição produzir efeitos positivos na sociedade, as oportunidades deste ecossistema exigem um grande desafio: a promoção de mecanismos para que aqueles em ocupações sensibilizadas permaneçam relevantes, cujo esforço deve se concentrar rumo à maior abertura – isto é, reduzindo as barreiras de entrada, concedendo maior flexibilidade, permitindo acesso a mercados inéditos e validando modelos alternativos de especialização.
Cada uma dessas necessidades se relaciona com os insights apresentados no “The Future of Jobs”, estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, no tocante às habilidades mais demandadas para o futuro do trabalho. Na publicação, são apresentados os dois possíveis tipos de perfil que os profissionais do amanhã precisam adotar. O primeiro deles está ligado ao desenvolvimento e utilização das novas tecnologias, em áreas ligadas a design de software e programação, por exemplo.
Já o segundo, por sua vez, se desenha justamente ao redor daquelas competências em que não há panoramas de que uma máquina possa substituir: liderança e influência social, aprendizado ativo, pensamento crítico e analítico, criatividade, versatilidade, originalidade e resolução de dilemas complexos.
O ensino das habilidades vinculadas ao segundo perfil é parte da chamada “educação empreendedora”, na qual o Brasil ocupa o 56º lugar dentre 65, de acordo com levantamento do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). A gravidade do parecer se acentua pela constatação de que, enquanto 60% dos jovens desejam empreender e adquirir recursos intelectuais para tirar ideias do papel, principalmente visando independência financeira e autonomia no trabalho, quase metade gostaria de deixar o país.
Para piorar, o cenário educacional brasileiro enfrenta, ainda, uma série de dificuldades estruturais. Dificuldades como a má alocação de recursos, que faz com que o gasto anual com estudantes universitários seja maior que o triplo do valor destinado àqueles que cursam o ensino fundamental e médio; a carência de infraestrutura adequada, presente em apenas 4,5% das escolas públicas; os problemas de gestão, frutos da rígida burocracia estatal; e, por fim, a opção pelo modelo de apartheid, condenando milhões de crianças e jovens a terem suas jornadas de aprendizagem designadas a partir de onde vivem.
Diante da conjuntura, muitos se perguntam qual a “bala de prata”, a proposta definitiva aos contratempos que envolvem a educação e o mercado de trabalho brasileiros. Em meio a calorosos anseios, é vital não nos rendermos ao encanto de fórmulas “simples, elegantes e completamente erradas”. O primeiro passo é coragem em reconhecer a natureza dupla do nosso obstáculo, seguido de esforços para assegurar tanto a correção dos gargalos históricos quanto a sensibilidade em lidar de forma aberta com os ventos de mudança, rompendo os entraves a novos aprendizados e ferramentas.
Até aprendermos a lição e o dever de casa engrenar, o caminho se mostra longo e árduo, mas possível.