Duas caras da mesma moeda. Numa temos um coroa brilhante e famoso, um dos maiores cineastas vivos, Roman Polanski, 76 anos. Ele está preso na Suíça para prestar contas à Justiça americana, que o condenou por obrigar uma menina de 13 anos a manter relações sexuais. Foi condenado e fugiu.
Lá, a Justiça prendeu e deve extraditá-lo, pois foi condenado. É o império da lei, independentemente da grana, da genialidade, da ideologia e da fama.
Aqui, a outra face, a nossa cara, revelada na dificuldade de extraditar um italiano que foi condenado porque matou algumas pessoas na Itália. Mas não estamos sozinhos na tarefa de deslocar o sentido igualitário que deve marcar o Estado de direito.
Anda por aí um abaixo-assinado internacional de intelectuais e artistas famosos pedindo que libertem Polanski. A despeito da solidariedade com a dor do cineasta, o que pedem essas pessoas? Que ele seja considerado excepcional, que tenha direitos que as outras pessoas não têm.
Mas por quê? Por ser um artista genial? E a menina? Devemos esquecê-la? E as famílias dos italianos mortos? O que me impressiona é isso: a intenção implícita de que esqueçamos as vítimas.
A única coisa que remedeia a dor é o emprego da justiça, ação que não desqualifica as vítimas. A moeda tem duas caras, mas tem o mesmo valor, ou deve ter.
Roman Polanski realizou um dos meus filmes prediletos, “O Pianista”, uma história emocionante sobre o horror do Holocausto. Que paradoxo! Sofro por conta de seu infortúnio pessoal, mas acima dele deve estar aquilo que nos civiliza e nos iguala: a Justiça.
(O Dia – 08/10/2009)
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