Prezados burocratas iluminados da Anvisa, quem vos fala é o representante da ANTA (Associação Nacional de Tutela dos Abestalhados). Venho expressar nosso apoio às recentes medidas adotadas pela Anvisa, sempre em prol da proteção dos indivíduos. Sabemos como a liberdade é algo temerário e perigoso.
O ex-presidente estadunidense Reagan costumava dizer que o governo existe para nos proteger de terceiros, e ultrapassa seus limites quando tenta nos proteger de nós mesmos. Mas o que sabia este ator? Só porque foi um dos responsáveis pela queda do Muro de Berlim não quer dizer que ele saiba melhor que vós o papel adequado do governo. O sucesso de suas reformas liberais tampouco comprova alguma coisa.
Nós, da ANTA, sabemos como o indivíduo, quando exerce a liberdade de escolha, acaba escolhendo errado. Menos no momento da eleição. Neste caso isolado, uma luz divina costuma cair sobre as urnas, e mesmo (ou principalmente) os abobados acabam acertando. Bastou sair dali, entretanto, e a estupidez retorna com tudo, demandando vosso sapiente controle para protegê-los.
Exemplos não faltam. Onde já se viu alguém, por livre e espontânea vontade, fazer bronzeamento artificial? É arriscado demais! É verdade que o próprio sol pode causar câncer de pele. Também é verdade que nem todos usam a proteção solar adequada. Mas a Anvisa faz sua parte, não é mesmo? Se poder tivesse, a Anvisa até tamparia o sol. Todos ficariam mais seguros.
O que dizer dos remédios? Sabemos como brasileiro gosta de se automedicar. O brasileiro é tão ousado que é capaz de comprar até aspirina sem receita! Permitir que as farmácias coloquem à disposição dos clientes tais produtos seria irresponsável. É preciso dificultar a venda, colocando tudo atrás do balcão e exigindo mais farmacêuticos de plantão para avaliar cada minúsculo pedido.
E nada de unir farmácia com loja de conveniência, como fazem nos EUA. A pessoa quer comprar um sorvete e acaba saindo de lá com um antibiótico tarja preta! Banir remédios de emagrecimento também foi uma jogada de mestre. Alegam que alguns casos necessitam deste tratamento. Mas o que sabem os médicos?
Agora mesmo a Anvisa deu mais um grande passo na direção da saúde popular perfeita, ao proibir os cigarros com sabor. Qualquer um sabe que aqueles cigarros mentolados são a porta de entrada para os jovens no satânico tabagismo. O que? As estatísticas negam que há mais fumantes em países onde é permitido este tipo de cigarro? Não importa. Ainda assim é importante proteger o fumante de si mesmo. O governo não protegeria um suicida?
Dizem que os fumantes vão acabar comprando cigarros vagabundos no contrabando, mas aí já não é mais problema da Anvisa.
Mas aqui cabe uma crítica. A Anvisa foi tímida demais! Não basta banir o sabor. É preciso impor um sabor podre. Somente assim eles param de fumar e a saúde coletiva pode avançar. Escuto alguém afirmar que os nazistas tinham esta meta também, da higienização do povo. E daí? Nem tudo aquilo que Hitler queria era absurdo, não é mesmo? E não há ligação alguma entre tais metas ambiciosas e o regime totalitário que se seguiu, há?
Muitos são os que aplaudem vossas medidas, saibam disso. Temos sólidos argumentos. Por exemplo: a saúde universal paga pelo estado. Eis como vai a lógica: se todos pagam impostos para manter o SUS, então claro que é legítimo o governo cuidar da nossa saúde. Dando continuidade a esta lógica impecável, nós da ANTA achamos que o governo deveria impor exercícios físicos diários, pois o ócio é prejudicial à saúde. Cortar o sal, o açúcar, a fritura e a gordura parece o caminho natural a seguir.
Aproveitamos para sugerir outra medida, mas em voz baixa, pois é mais polêmica. Sabemos que os ungidos da Anvisa reconhecem que a saúde do corpo não é tudo que importa. A saúde da mente também é fundamental. E não podemos permitir que cada um escolha livremente o que ler. Um controle social da imprensa se faz urgente.
O Partido da Imprensa Golpista (PIG) chama isso de censura, mas não tem nada a ver. É apenas o governo clarividente e altruísta cuidando do povo, protegendo os súditos, digo, cidadãos, deles mesmos.
E para quem apresentar sinais de ansiedade com estas mudanças todas, basta o governo fornecer gratuitamente antidepressivos. Todos ficarão felizes.
Portanto, camaradas da Anvisa, sigam em frente com vossa luta pelo bem geral. E não liguem para aqueles poucos que vos acusam de fascistas. O povo deseja vossa tutela. A liberdade é um luxo desnecessário quando a saúde social está em jogo.
Fonte: O Globo, 20/03/2012
A meu ver, o autor exagera na crítica à ANVISA. Concordo com a opinião de que o Governo se intromete demais nas esfera privada e cerceia liberdades individuais. Mas, no que concerne a saúde pública, não concidero incorretas as medidas ora adotadas para destimular o tabagismo (na impossibilidade de simplesmente banir o comércio de cigarros) e controlar o consumo de remédios e procedimentos cosméticos. Aqui, tanto de um lado como do outro, vale o velho adágio de que “a diferença entre remédio e veneno, é a dose!”
Concordo com o autor. Ofereça educação de bom nível e você perceberá que a população responde, inclusive se protegendo mais. Enquanto mantivermos essa atitude paternalista e bocó, seremos sempre dependentes de um Estatuto de Menor e do Adolescente da cidadania.
O Constantino, como sempre, incisivo e preciso. Estamos em maus lençois com essa casta de burocratas em cujas mentes se solidificaram, como ferro fundido, as ideias de intervenção estatal e tutela do cidadão.
Agora: como estabelecer o limite da competência desses órgãos?
Criar uma agência que regule a agência reguladora?
Ou confiar no bom senso de quem cotidianamente revela que não tem bom senso?
É a cultura socialista-petralha, meu caro.
Abraços, Mauro
André Luiz, não acredito que haja um meio termo nesse caso. Sua sugestão de que algumas liberdades devem ser restritas é incoerente. Liberdade é uma coisa só. Ou se tem ou não se tem. Não dá pra dividir essa liberdades serão mantidas enquanto essas não serão toleradas.
Mauro, eu detesto o PT com todas as minhas forças, mas a cultura socialista de restrição de liberdades individuais não é (infelizmente) exclusividade deles. Aliás, dos partidos constituídos não há um só cujas propostas e ações sejam diferentes dessas. Agora a gente fala do PT por que eles estão mandando, mas se forem substituidos pelo que pregam ser seu oposto, o PSDB, nada muda. E a solução não é criar mais nada, mas descriar tudo que foi inventado para nos controlar.
Constantino sempre brilhante em seus argumentos. Concordo com ele. O governo não pode pretender proteger-nos de nos próprios. o governo pode orientar, expressar a opinião oficial, mas sem proibir. Caso contrário, estaríamos lançando as sementes do totalitarismo, do pensamento único, hoje disfarçado no “politicamente correto”.
Mas é isso que acontece com uma nação que deseja serviços universais e gratutios pelo estado.Como a conta dos fumantes e repartidas entre todos e è tabu no Brasil falar em qualquer tipo de cobrança em saúde o governo vai disfarçadamente impondo restrições em nome do “bem coletivo”.Na visão esquerdista e socialista da sociedade brasileira não pegaria bem ao governo propor qualquer mudança na saúde.Se queremos liberdade real de escolhas devemos lutar para pagar menos impostos e procurar serviços da iniciativa privada.Povo que quer tudo de “graça” como no Brasil vai sendo cerceado pelo governo.
Acho que se trata novamente de um caso clássico da discussão liberdade x igualdade.Se as pessoas desejam liberdade devem arcar com as consequências.No Brasil as pessoas querem levar uma vida de excessos e jogar a conta no contribuinte(SUS).Tudo que é de “graça” na verdade tem um preço embutido mesmo que seja na forma de uma restrição de liberdade.Agora é obvio que como a sociedade brasileira esquerdista por essência escolheu o modelo estatal de “direitos” universais gratuitos para todos não podem reclamar quando começam a brotar normas e restrições governamentais de todos os lados.Afinal se é gratuito e para todos o governo irá restringir custos.
Claro,a anvisa está protegendo os “endinheirados”,pois os pobres coitados que dependem do SUS vão morrer não só por falta das receitas médicas,pois este serviço de saúde está um CAOS,até que se consiga uma,o pobre dependente, já bateu as botas!!!!!!!Vai a farmácia comprar sem a dita,volta sem o medicamento.Vai ao SUS pegar uma receita ,falta o médico! Se correr o bicho pega,se ficar o bicho come!!!E aí?VCs gostam muito é de bla,bla!!!
O que foi isso?! Rodrigo, meu caro, quando, numa sexta feira, você for pra casa, ao final de uma semana estressante, acenda um bom tabaco, tome algumas doses de um bom 12 ou 18 anos, com uma conversa agradável com sua esposa e mais alguns amigos. É bom demais, meu caro…
Tem gente morrendo porque não pode esperar uma segunda fila no sus ou não tem dinheiro para pagar uma nova consulta pegar a maldita receita médica que fica retida sempre que o paciente tem que comprar uma misera caixa de antibiótico para infecção na garganta.
Estamos sendo ceifados aos poucos de tudo.
Isso sem falar das multas absurdas por andar acima de 40 Km onde nem faixa de pedestres tem…
Está rodando pelo Facebook uma tela-comentário que já recebeu muitos “compartilhamentos” a respeito da obrigatoriedade que se imporia aos políticos de usarem o SUS a cada vez que precisassem.
Evidentemente se esta reivindicação fosse aprovada, eles continuariam a chamar seu médicos particulares para um atendimento domiciliar.
Mesmo assim, acho válida a reivindicação, primeiro porque PIMENTA NO TRASEIRO DOS ELEITORES É REFRESCO e depois, porque em caso de necessidade de internação, a eventual nova lei os obrigaria a viajar para o exterior a cada necessidade.
Infelizmente tais despesas estariam ainda sendo cobertas pelo erário, uma vez que eles tem verba ilimitada para a saúde e passagens aéreas aos borbotões.
Tornado, porém, tais atitudes, CRIMES HEDIONDOS, e fazendo acompanhamento estrito dos prontuários médicos dos referidos e ( permitindo a lei ) de seus familiares, tais abusos seriam cerceados e teríamos uma classe de engravatados babando de dor nos corredores infectos do SUS
Quer saber onde a ANVISA mostra realmente a sua nojeira? Acompanhe como sao registrados medicamentos e items medico-hospitalares. Veja a estupenda qualidade de seus servicos. E entenda porque o setor farmaceutico esta agonizando no pais.
É, posso concordar em parte. Na parte em que educação e informação coerente impactam na adoção de bons hábitos, isso não sou eu que digo, mas a ciência… se alguém já ouviu falar em Educação em Saúde vai concordar comigo. Agora louvar a auto-medicação aplaudindo atitudes como dos americanos de “comprar um sorvete e acaba saindo de lá com um antibiótico tarja preta!” vai de encontro a, mais uma vez, verdade científica dos danos da automedicação. Percebi algumas falas dos comentaristas do tipo “uma mísera caixa de antibiótico para infecção de garganta” que subestimam o verdadeiro diagnóstico (pois nem toda infecção de garganta precisa de antibiótico e quem define isso é, por capacidade, o médico!) e ignoram os perigos do uso indiscriminado de antibióticos, pois não existe NENHUM antibiótico que seja “mísero”, isento de danos… havendo interesse, recomendo algumas leituras de textos que tratam do assunto elaborados por institutos de saúde americanos e europeus no que se refere
a resistencia bacteriana relacionada ao uso de antibióticos.
Não podemos adotar a visão simplista de “cerceamento da liberdade” num país de ignorantes que podem comprar e usam Aspirina deliberadamente em plena epidemia de Dengue.
Concordo com o dr.Vanderson, também sou medico, trabalho em uma cidade do interior e lido com pacientes do SUS. Existem muitas pessoas totalmente ignorantes nesse pais. Pessoas sem educação formal alguma, analfabetas, simples, que nao tem a menor condição de decidir sobre o uso de um medicamento. Associe um sistema de saúde precário e o que vê são absurdos:
Uso indiscriminado de antibióticos, antiinflamatórios, anfetaminas e de qualquer medicação que apareceu na televisão ou que o vizinho utiliza.
Como nao e possível decidir quem esta apto ou nao a comprar e utilizar o medicamento que bem entender, faz-se necessário algum sistema de tutela pelo estado na comercialização dos remédios até que o sistema de saúde possa atender a todos e o nível educacional seja melhorado.