Em sistemas políticos modernos, a corrupção está instalada em organizações criminosas complexas — de concatenações públicas e privadas — com hábil e silenciosa mobilidade nas margens cinzentas da lei, ganhando escala em países institucionalmente fracos e anacrônicos. Com o foro da impunidade reinante, os sistemas corruptos se estabilizam em uma situação de equilíbrio, beneficiando setores pontuais da elite político-econômica do poder, jogando por terra a livre concorrência do mercado e a paridade de armas na democracia.
Para quebrar a inércia delitiva, se faz imperativo um fato desencadeador que atinja o núcleo do esquema delitivo, capturando algumas cabeças da engrenagem corrupta. Trata-se da aplicação da estratégia do frying a few big fishes, na qual o enquadramento de algumas peças-chaves do sistema corrupto vem a criar um momento proativo de elevação institucional do país por pautas de moralidade e ética na vida pública.
Nesse contexto desafiador, a festejada Operação Lava-Jato poderá ser um ponto de inflexão importante no bom combate à entranhada corrupção brasileira. Para tanto, é fundamental o efetivo engajamento da sociedade civil. Crimes de poder não se resolvem com a exclusiva ação externa punitiva da Justiça; aqui, é preciso ir adiante e penetrar no âmago da atividade política. Sem uma energia cívica transformadora, será praticamente impossível romper com o antirrepublicanismo vigente no Brasil.
Nosso momento é absolutamente crítico. A maxicriminalização da política, antes de um remédio heroico, poderá se transformar na descrença definitiva do alto ideal da democracia. Por assim ser, os sucessos definitivos da Lava-Jato pressupõem o surgir de um engajamento cívico renovador que, além de resgatar a decência na política, traga consigo novos líderes, homens e mulheres realmente comprometidos com os inegociáveis ideais da vida pública digna e responsável. A democracia precisa dos seus bons cidadãos, pois só a virtude vivida conduz à boa política. Portanto, se queremos mudar a política, é hora de começarmos a mudar a nós mesmos. Quem se apresenta?
Fonte: Zero Hora, 18/07/2016.
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