A expectativa dos mercados em relação à Grécia tem gerado incerteza nos investidores e vem promovendo retiradas consideráveis de capitais da Europa. Essa fuga de investimentos busca segurança no dólar e fez a moeda norte-americana novamente registrar um valor acima de R$ 2,00. Além da volatilidade, a crise europeia passa por uma fase decisiva no âmbito político e um desacordo com os credores referente às medidas de austeridade é provável, caso o partido de extrema esquerda vença as eleições gregas previstas para 17 de junho. O problema é evidente e o risco de a Grécia ter que deixar a zona do Euro vai se tornando uma realidade e isso vai depender, em grande parte, da habilidade dos governantes europeus.
Dificilmente um chefe de estado vai declarar interesse em cortar gastos. Medidas de austeridade são pouco compreendidas, o que envolve um alto custo político até quando são necessárias e poucas pessoas aceitam perder privilégios — mesmo os que estão inadequados à realidade como os do “Welfare State”. E nem os economistas estão imunes de visões “curtoprazistas”. É ainda pior quando se tem uma “ciência” que justifica o gasto governamental no crescimento ou num onírico “efeito multiplicador” — que inibe o medo dos empreendedores. Nessa lógica, a fome se junta à vontade de comer — seria o mesmo que deixar a raposa tomando conta dos ovos.
Esse cenário de crise facilita o aparecimento de líderes “messiânicos” que, com apoio popular, podem fazer um estrago ainda maior. Em conversa, o Phd em economia e autor do livro “Tragedy of Euro”, Philip Bagus, foi categórico ao afirmar que “a ascensão desse discurso socialista na Europa, vai resultar apenas em mais intervenções ao invés de reduzir as dívidas ou fomentar crescimento”.
Apesar de grande responsabilidade na crise fiscal europeia, as viúvas de Keynes ainda são frequentemente evocadas e adoram discussões como: austeridade vs crescimento. Além de equivocado, tal maniqueísmo ignora a complexidade envolta ao tema. Um país com finanças quebradas não é capaz de crescer de forma sustentável apenas imprimindo mais dinheiro (lê-se inflação) ou tomando empréstimos sem modificar os equívocos administrativos. Os investidores não vão acreditar em cenário artificial criado pelos governos e o movimento de capitais em direção ao dólar evidencia isso.
Para o economista Rodrigo Constantino, “quando o médico erra no diagnóstico, ele com certeza vai errar na prescrição do remédio”. “O problema é que o mainstream adota uma teoria econômica não condizente com os fatos da realidade”, aponta. As políticas de expansão monetária são nocivas para o consumidor, pois o dinheiro entra na economia de maneira desigual, de forma que, os primeiros a receberem essas divisas —os governos —, beneficiam-se ao fazerem suas trocas antes dos preços serem alterados. Portanto, os últimos que tiverem acesso ao “novo dinheiro” vão encontrar produtores que já perceberam a desvalorização monetária, ou seja, esses consumidores irão dispor de um menor poder de compra.
A união monetária Européia foi concebida de forma bem curiosa, unindo economias estritamente desiguais num mesmo sistema de divisas e os países que não tinham lastro para sustentar uma moeda forte como o Euro tiveram suas taxas de inflação artificialmente igualadas. Isso quer dizer que, graças ao Euro, os países da periferia da Europa foram alçados a uma condição de consumo e crédito incompatível com suas realidades, o que para Philip Bagus é comparável ao conceito de tragédia dos comuns, uma vez que os limites de propriedade não foram bem definidos e nem mesmo uma união fiscal foi articulada, formando-se, então, um sistema autodestrutivo.
Além disso, o alto grau de interligação do sistema monetário, coloca os países ricos também num dilema, já que o sistema bancário deles, altamente alavancado, está muito exposto aos títulos dos países endividados. Portanto, se a Grécia– que financeiramente representa cerca de 2% do bloco– sair da zona do euro, todos os países membros sentirão as consequências.
O corte de gastos é doloroso em curto prazo, mas a dor é diretamente proporcional às distorções causadas pela adoção da moeda única. Nesse sistema, ficou claro que o fator político solapou questões que seriam econômicas, graças à irresponsabilidade de socialistas franceses como François Mitterrand e Jacqes Delors. Esses políticos queriam centralizar a economia e conter a força do Bundesbank no continente, mas, na verdade, o que eles conseguiram foi a germinação de uma crise fiscal.
Infelizmente, esses governantes deixaram suas crias, Hollande na França e o grego Alexis Tsipras, que estão tentando mudar a história e jogar a culpa toda na austeridade, sem contar que, qualquer governante que afirme ter uma rota de fuga para uma crise é bem desconfiável. Está claro que alguns líderes europeus estão focados, apenas, em conseguir uma chancela popular, a fim de legitimar a gastança e à injeção monetária, almejam ser os alquimistas da atualidade!
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