O historiador e economista Robert Higgs escreveu um comentário bastante interessante, há poucos dias:
“No sábado, passei a maior parte do dia em Chetumal, tratando de negócios por lá. Como de costume, tive uma viagem bastante bem-sucedida. Sempre que faço essas viagens, o que faço em média a cada três ou quatro semanas, lembro-me de como me dou bem em um país onde falo a língua – para me dar mais crédito do que mereço – mal.
Agora, é verdade que minhas transações são facilitadas pelo fato de que os mexicanos, em geral, são muito legais no trato com as pessoas. Mas algo mais está em jogo aqui, e merece reconhecimento como outro “milagre do mercado”. Veja, pessoas que estão lidando umas com as outras, como compradores e vendedores, credores e tomadores, investidores e empreendedores estão altamente motivadas a alcançar um negócio bem sucedido. Não estão, portanto, inclinados a deixar que as sutilezas de vocabulário, gramática e sintaxe impeçam uma transação mutuamente vantajosa. Por mais desajeito que eu seja para falar e escrever em espanhol, eu praticamente nunca deixo de fechar negócios com os mexicanos…”
Através dos tempos, muitos observadores notaram como os mercados promovem relações pacíficas e mutuamente enriquecedoras entre pessoas de diferentes idiomas, costumes, religiões e origens. O relato de Voltaire sobre esse assunto é um clássico:
“Entre na Bolsa de Valores de Londres – um lugar mais respeitável do que muitos tribunais – e você verá representantes de todas as nações reunidos para benefício próprio. Aqui, judeus, maometanos e cristãos lidam uns com os outros como se fossem todos da mesma fé, e só aplicam a palavra infiel a pessoas que vão à falência. Aqui, o presbiteriano confia no anabatista e o anglicano aceita uma promessa do quaker. Ao deixar estas assembleias pacíficas e livres, alguns vão à sinagoga, outros à igreja e outros para uma bebida…, mas todos estão felizes.”
No mesmo diapasão, Alexis de Tocqueville descreveu a beleza do comércio ao falar do cotidiano dos cidadãos americanos, durante o Século 19, em sua obra maior, “Da Democracia Na América”:
“O comércio é o inimigo natural de todas as paixões violentas. O comércio adora moderação, delicia-se no compromisso e é cuidadoso para evitar a raiva. É paciente, flexível e insinuante, recorrendo apenas a medidas extremas em casos de absoluta necessidade.”
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Quem quer que já tenha trabalhado no comércio, interno ou internacional, sabe que os relatos acima são verdadeiros. Mesmo os turistas sentem que, por trás do bom tratamento que recebem em terras distantes, estão implícitos os benefícios mútuos provenientes das trocas comerciais.
Quando os defensores do livre mercado se rebelam contra o protecionismo e o nacionalismo, normalmente se concentram nos aspectos e nos efeitos meramente econômicos das tarifas e das proibições governamentais: o aumento dos preços ao consumidor, a escassez de produtos e capitais, o crescimento econômico, a diminuição da competitividade e da eficiência, ou mesmo questões diplomáticas vinculadas a tratados comerciais.
Essas são preocupações legítimas, sem dúvida, mas negligenciam outra questão muito importante. Além de qualquer prejuízo ao bem-estar material ou ao desenvolvimento econômico, o protecionismo também inibe e/ou proíbe algo talvez ainda mais fundamental – as relações humanas entre pessoas de raças, credos e culturas diferentes.
Em última análise, o comércio é sobre relações humanas, e os mercados são simplesmente redes desses relacionamentos: canais para as pessoas interagirem umas com as outras para obter bens e serviços que elas querem ou precisam. O que ocorre dentro e através dessas relações comerciais não são apenas transferências materiais, mas trocas civilizadas entre pessoas civilizadas, conduzidas pelo trabalho individual e cooperativo e, idealmente, pelo respeito mútuo.
Expandir as oportunidades de comércio é simplesmente expandir as oportunidades de conectar o nosso trabalho aos de bilhões de pessoas distantes mundo afora, por meio da colaboração mutuamente benéfica. Por outro lado, dificultar o comércio não provoca apenas distensões nas relações com países estrangeiros. Também elimina os caminhos para a colaboração civilizada entre pessoas reais, interrompendo uma rede diversificada, pacífica e produtiva de relacionamentos entre trabalhadores e comerciantes de todo o mundo.
Cada produto que você vê na prateleira de uma loja ou supermercado é o resultado de uma enorme cadeia colaborativa entre indivíduos de diversas raças, culturas e crenças, sejam da mesma nacionalidade ou não. É uma imagem de abundância proveniente de intricadas e frágeis redes produtivas e colaborativas. Restringir esse processo complexo, dinâmico e harmônico, é restringir as próprias relações humanas.