Em debate da série “O Futuro do Brasil”, promovido em 14 de setembro pela BBC Brasil e pela rádio CBN em São Paulo, Gustavo Franco, Antônio Corrêa de Lacerda e Fábio Giambiagi defenderam a necessidade de maior investimento do setor privado na economia, mas discordaram sobre o papel do Estado. A matéria é da BBC:
“Na opinião do economista e ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Franco, os impostos arrecadados no Brasil não são suficientes para cobrir ao mesmo tempo os gastos sociais – em saúde e educação, por exemplo – e o financiamento do crescimento. “Não dá para ser um pais europeu do ponto de vista do gasto social e ao mesmo tempo querer que o Estado assuma todos os encargos de investimento da infraestrutura. A conta não fecha”, afirmou.
Franco se mostrou crítico ao processo de capitalização da Petrobras, iniciado pelo governo federal nesta semana. “Esse dinheiro que a gente tira do bolso pra dar ao Estado deixa de ir para o mercado de capitais. A gente está financiando o governo. Se fizesse isso com recursos privados, não teria essa necessidade”, disse.
Por sua vez, o economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Antônio Corrêa de Lacerda, defendeu a oferta de ações da Petrobras. “Eu respondi ao chamado da primeira capitalização e estou muito satisfeito com a rentabilidade, e vou exercer o meu direito de recapitalizar”, disse.
No entanto, o economista concordou com a necessidade de ampliar a capacidade de investimento do setor privado. “O Brasil pode contar com os bancos públicos no combate à crise, nas políticas anticíclicas, mas a sustentabilidade desse processo de elevação da taxa de investimento evidentemente vai precisar incorporar as alternativas do mercado de capitais”, afirmou Lacerda.
Quanto à exploração do petróleo na camada pré-sal, Lacerda afirma que o governo deve agir com inteligência para utilizar estes recursos no sentido de agregar valor ao longo da cadeia produtiva, sem gerar privilégios para setores específicos e evitando grandes custos para a sociedade.
O economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Fábio Giambiagi disse que, além da atuação em situações de crise – como ocorreu em 2008 e 2009 -, o papel do Estado no financiamento e na infraestrutura é “absolutamente crucial” – embora veja a necessidade do fortalecimento do setor privado no investimento.
Além disto, ele afirmou que a atuações dos governos nos programas de assistência, desde o regime militar até a criação do Bolsa Família, foram bem-sucedidos e “absolutamente definitivos” em termos do que se espera do Estado em termos de políticas sociais.
Estado
Para Giambiagi, o entendimento sobre a atuação estatal sobre a economia varia com o tempo. Ele citou o Banco do Brasil como exemplo de como um órgão estatal pode mudar de status e assumir funções características de instituições privadas.
O mesmo, segundo o economista do BNDES, ocorreu na siderurgia, um setor que antes era visto como estratégico para o Estado e que acabou sendo alvo de privatizações.
“Hoje, ninguém, nem o mais fanático dos estatistas, se aventura a dizer que o setor siderúrgico deveria pertencer ao Estado”, disse.
O diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, defendeu a atuação do governo no sentido de reduzir a taxa de juros e a carga tributária sobre o setor produtivo.
“Não estou defendendo a proteção de setores da indústria, mas é muito chato competir quando se carrega 30 kg nas costas por fatores externos aos muros da fábrica”, afirmou.”
O evento aconteceu no dia 13 de setembro, e não no dia 14.
Abraço.