É impressionante como muita gente no Brasil costuma tirar conclusões precipitadas a partir dos efeitos iniciais de medidas adotadas pelo governo. Poucos conseguem entender que, numa economia estável, os números não podem andar aos saltos. O bom é que eles andem lentamente, um passo depois do outro.
O melhor é que o cenário se altere aos poucos até o momento em que, ao parar para analisar o que está acontecendo, as pessoas percebem que estão diante de uma realidade distinta daquela que vigorava um ou dois meses antes.
Isso se aplica, por exemplo, à decisão do BC que, na semana passada, resolveu desestimular as apostas que parte do sistema financeiro vinha fazendo na valorização excessiva do real.
O impacto sobre a taxa de câmbio no primeiro dia do anúncio do depósito compulsório nada teve de espetaculoso. No segundo dia, houve até uma pequena queda do dólar. E assim deverá ser nos próximos dias.
O mercado acabará se adaptando à nova realidade sem que isso prejudique os importadores, os exportadores e todos os que, numa economia aberta, precisam olhar o mercado interno sem se descuidar do que se passa no mundo.
A medida do BC para intervir sobre o câmbio foi engenhosa e mostrará resultados com o tempo.
O dólar subirá gradativamente e chegará à casa de RS 1,80 – ou pouco acima disso – ali pelo meio do ano. E pode bater em R$ 1,90 daqui a 12 meses.
A vantagem da ferramenta utilizada é que, se a tendência se inverter e o real começar a se desvalorizar depressa demais (o que acabaria puxando a inflação para o alto), o governo pode reduzir ou até eliminar o compulsório sobre as moedas estrangeiras.
Nesse caso, o real voltaria a se valorizar. Para concluir, é preciso registrar que a política de flutuação livre que vigorou até a semana passada foi adotada pelo BC na presidência de Armínio Fraga Neto e se manteve inalterada por quase 12 anos. Agora, com a flutuação monitorada, o país entra num novo estágio, mais adequado ao ciclo de crescimento aguardado para os próximos anos.
Fonte: Brasil Econômico, 10/01/2011
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