A mobilização em torno da escolha de uma sede olímpica, com uma ampla discussão sobre o efeito de um evento desse porte sobre a cidade e país sede, o engajamento de chefes de Estado e grande aparato de marketing nessa escolha podem induzir a uma certeza, que na verdade é dúvida: a escolha de uma sede olímpica é um vetor comprovadamente eficiente de catalisar e lançar essa cidade a uma nova realidade e projeção mundial? Não, pois esse vetor também depende das condições latentes da cidade e da qualidade do investimento que será feito na criação e revitalização da qualidade urbana.
A relevância de uma escolha de sede olímpica vem do aumento da importância e influência econômica do evento e, principalmente, do exemplo que se teve a partir de Barcelona em 1992, em que essa cidade “aflorou” para o mundo, em um movimento de reposicionamento que já acontecia, é bom que se diga, desde a década de 80. Por outro lado, há o legado confuso de Atenas e Sydney, e a situação sui generis em que se encontrava Pequim e a China.
Obviamente, se os investimentos forem supérfluos e a criação de atributos apenas superficial, a Olimpíada não terá sido útil para a cidade e o país na proporção dos investimentos.
No caso do Brasil e do Rio de Janeiro, há um grande diferencial: há 40 anos não são realizados os Jogos em um país democrático em desenvolvimento, o que será uma oportunidade de fazer desse evento um catalisador de mudança econômica e social.
O momento do Brasil, com Copa ou Olimpíada, é uma faca de dois gumes, um limão ou uma limonada. O que mais desanima no caso do Rio é o histórico, com a questão do Pan e seu legado, e o histórico de artificialismos como a Cidade da Música, a negligência com a educação e a saúde pública. Mas os comissários do COI não foram tolos, ou ingênuos, ao acreditarem nas imagens “retocadas” do Rio de Janeiro. Foram seduzidos pela ideia de ver e ter os Jogos Olímpicos como um vetor efetivo de desenvolvimento. E essa será a prova do Rio, cujo resultado só veremos cinco ou dez anos depois. Eu gostaria muito de ver os Jogos, mais do que simples elementos de valorização de bairros nobres ou semi explorados, mas também como indutores da revitalização de regiões no Centro e na Zona Norte da cidade e promoção da homogeneidade.
A Olimpíada não pertence somente aos cariocas mas a todos os brasileiros, pois os recursos alocados resultam de um sacrifício de todo o país. Pois então, vamos ajudar a cidade, que é a porta de entrada e cartão-postal do Brasil, a construir uma infraestrutura que seja capaz de melhorar seus atributos, definitivamente: transporte, despoluição ambiental, melhoria no padrão de habitação, saúde e educação; promover mundialmente a cidade enquanto destino de investimentos produtivos e turismo de alto padrão; trazer soluções que aumentem as sinergias com São Paulo, formando uma megalópole brasileira com características únicas, e que tragam soluções escaláveis para todo o país.
Se vamos fazer dessas oportunidades uma realidade, e não uma “bomba” de gastos sem retorno, dependerá do engajamento, organização dos cidadãos e fiscalização sobre o uso dos recursos. O que acontecerá nos próximos anos, com Copa e Olimpíada, dirá muito sobre o Brasil dos anos 2020 e 2030.
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