Obama ganhou mais quatro anos para entregar sua promessa de mudança. Desta vez, num discurso de vitória tão emocionado quanto vazio de conteúdo, ele fez o comentário-chave do próximo mandato: “Vocês (povo) podem vencer na América, desde que tentem”.
Em bom inglês, jogou para cima da classe média os ônus (e bônus) de darem a volta por cima. O que não ficou explicado no discurso é como chegar lá. Pela primeira vez em várias décadas, colho opiniões dos próprios americanos, não de desânimo, mas de grande preocupação pela falta de alternativas claras de lidar com imensos problemas.
Embora espertíssimo no seu discurso político, Obama está blefando quando diz que na América basta tentar para conseguir. Os EUA não são mais a terra da promissão, embora persistam como uma grande nação de oportunidades. Basta olhar as estatísticas migratórias recentes para comprovar que as coisas não vão bem num país que distribui ajuda alimentar mensal ( “food stamp program”) para mais de 46 milhões de carentes! Para comparar, pouco mais de 110 milhões votaram nesta eleição.
Qual será a pauta de Obama, agora que completou seu curso pós-universitário de quatro anos como presidente? Está graduado. Terá enxergado, por exemplo, que os banqueiros de Wall Street já gastaram, e continuam gastando, muitas centenas de bilhões para serem resgatados de uma crise financeira que está longe de acabar.
Mudar, no caso, é não contemporizar com a política monetária frouxa e vazia do Fed, que enche as reservas dos bancos de munição especulativa, mas não acrescenta um só tostão à base do crédito produtivo. O mercado imobiliário, que se noticia em recuperação, está de língua de fora e ainda se arrastando no chão.
As maiores empresas americanas têm caixa ocioso. Por quê? Por não enxergarem rentabilidade nos investimentos em que poderiam empregar esse caixa parado. Não é com palavras soltas que Obama ajudará a mudar esta realidade. No centro de tudo está o descontrole fiscal. Duras negociações ocorrerão com a maioria republicana na Câmara, sobre o “precipício fiscal”, como assim chamam os especialistas, ao projetarem o déficit orçamentário dos anos do segundo mandato e as necessidades de cortes.
Mas Obama tem um trunfo inesperado, se tiver ( e tem) a cara de pau de adotar a proposta de aumento de impostos do seu ex-rival Mitt Romney. Romney propôs algo muito mais democrata do que se imagina, no sentido de cortar subsídios e vantagens fiscais justamente dos mais abastados, e nivelar a carga com alíquotas módicas para a classe média.
Basta encampar a proposta de Romney e avançar nas negociações políticas. A outra pauta é internacional: segurar os israelenses que sonham em atacar o Irã – esta é a última coisa que Obama deveria patrocinar – e, por outro lado, focar o comércio nas nações emergentes, do Next 11, a começar pelo México, vizinho que Obama esnoba.
Os emergentes poderiam significar mercados crescentes para a indústria americana e, de quebra, segurar o avanço enorme da China, especialmente, na África. É um absurdo que, logo no espaço africano, Obama esteja perdendo de braçada para a China. Para não falar da América do Sul, que Obama finge não existir no mapa político.
Fonte: O Globo, 09/11/2012
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