Este artigo começará com alguns comentários:
“A Petrobras e os brasileiros decentes e bem informados já esperavam essa atitude da Folha. Acho que a direção perdeu a noção do perigo. Ninguém mais a quer, nem sequer para o cocô de seus cachorros. A derrocada se dará muito antes que eles percebam.” – Maria Ferreira – 14/06/09
“Todos os jornalecos dessa chamada “grande mídia”, reclamam da falta de “liberdade de imprensa” mas abusam da mesma mentindo e criando falsos escândalos, demonstrando o total descompromisso com o povo e o Brasil. Deveriam receber severas punições pela extrema falta de compromisso com a verdade, precisamos de uma lei de imprensa mais rigorosa, liberdade sim, para conspirar e falsificar a verdade nunca!” – Evaldo Chaves, 14/06/09
“Esse blog realmente é fantástico. Parabéns pela iniciativa. Parabéns PETROBRAS. Só assim podemos saber como os bandidos jornalista transformam e manipulam informações para derrubar a PETROBRAS.” – Heriveltoli – 15-06/09
“Se o jornalista que datilografou a matéria soubesse o que estava escrevendo, não estaria trabalhando no Valor Econômico, recebendo salário de jornalista. Estaria sim dando assessoria econômica a endinheirados e cobrando muito bem.” – Remindo Sauim – 15/06/09
“Os jornais atendem aos interesses de seus donos e PONTO! Os jornais nao tem nenhum compromisso com a verdade, apenas com o lucro.” – Gilberto – 12/06/09
Esses comentários passaram por moderador e foram publicados no blog que a Petrobras criou para evitar uma CPI que a investigue.
A iniciativa do blog causou muita polêmica por ter começado vazando as perguntas de jornalistas, transformando o “ouvir o outro lado” em estragar o furo jornalístico. O presidente da Petrobras, o petista José Sérgio Gabrielli, defendeu enfaticamente o novo instrumento durante entrevista ao Roda Viva (08-06-09). Uma das linhas de argumentação é correta: trata-se de uma oportunidade para que a empresa publique na íntegra a sua versão daquilo que se lhe pergunta, que por necessidade industrial acaba sendo editada na mídia impressa (a internet não tem esse problema). Depois a empresa recuou, só publicando as perguntas depois que a matéria já foi publicada.
Mas, na mesma entrevista, Gabrielli defendeu que a empresa coloque lá opiniões próprias. Primeira questão: é para empresa estatal ter opinião própria? Temos agora uma empresa cujo objetivo estatutário, além de buscar petróleo, é produzir editoriais? A quem caberia definir a “opinião” da empresa, o presidente de plantão da Petrobras, um indicado político que nem funcionário de carreira é? O partido no poder? E se as mais de 300 estatais começarem a fazer blogs e veicular “opiniões”? Agora a Infraero, Banco da Amazônia e Dataprev teriam opinião formada sobre, sei lá, as eleições no Irã?
É espantoso que tantos comentários (o que foi aí em cima é uma ínfima parte dos vitupérios contra jornalistas e jornalismo de modo geral) sejam aprovados pela moderação.
O que se vê no Blog da Petrobras não são apenas opiniões próprias que denigrem jornalistas. É uma incitação ao ódio, como se lê nos comentários (moderados!). Lá, empresas de comunicação que atuaram por décadas no País perderam “a noção do perigo” e merecem agora “severas punições”. Mas não se trata apenas de ataques a grandes veículos de imprensa, mas até mesmo à profissão de jornalista. Nos comentários (aprovados pela Petrobras!), jornalista é chamado de bandido e fracassado, já que se fossem bons não estariam “recebendo salário de jornalista”.
Nessa profissão eu me formei, trabalho no batente, sou sindicalizado, fiz inúmeras fontes na Petrobras e ganhei prêmio nacional na área de petróleo e gás natural. Vi muita gente na Petrobras que trabalha para o país e outros com extrema preocupação política, a ponto de colocar em risco grandes projetos, como a Refinaria Abreu e Lima. Mas é espantoso o ódio que a companhia demonstra agora com esses questionamentos, a ponto de ironizar o próprio trabalho jornalístico – diante de um constrangedor apoio tácito da ABI e Fenaj.
Em tese, todas as estatais foram criadas para servir a uma necessidade pública e ao Estado brasileiro, não ao partido no poder. E grande parte da correção dos desvios veio graças aos instrumentos de fiscalização, dos quais a imprensa é parte vital. Transformar essas empresas em veículos dotados de opiniões próprias é uma extrapolação perigosíssima, ainda mais com esse trabalho de difamação de quem as fiscaliza. Estamos diante da avenida que vai dar no totalitarismo.
Parabéns Renato Lima.
Muito bom o seu artigo.
È por isso que sou totalmente a favor da privatização desse elefante branco chamado petrobrás. A estatização faz com que tenhamos a pior gasolina do mundo. E a mais cara.
Um abraço.
Carlos.
Renato,
recebi o link para o seu artigo enviado pela Anita Lucchesi.
Num post a respeito desse mesmo assunto (o blog da Petrobras), em meu blog amador sobre economia, política e pitacos em geral, expus minha opinião argumentando da seguinte maneira:
Tanto Petrobreas como imprensa são duas instituições muito poderosas dentro do cenário político e economico nacional. As ações de ambas influenciam diretamente investidores nacionais e, principalmente, os internacionais (recém chegados com a carteira cheia de dólares). Essa é uma história retaliadora que pode ter um final bem triste.
Analisemos:
A história toda começa quando o governo se recusa, estranhamente, a aceitar a instalação de uma CPI da Petrobras, principalemente, porque há rumores de que o nome da Ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, poderia estar envolvido. Devido a tais rumores a imprensa luta arduamente para estampar nos jornais, todos os dias, notícias que claramente botam o pé da Petrobras na lama. Pretrobras pressionada, cria o blog como uma forma de dar a sua versão dos fatos. Afinal liberdade de imprensa é um direito conquistado pelos jornalistas e meios de comunicação, cuja estrutura (dada pela palavra “liberdade” no inicio da expressão) não é outra senão a memsa liberdade de opinião, conquistada por qualquer cidadão/instituíção.
Já sei, aí você vai dizer que empresas estatais não têm que dar sua opinião, afinal, são ESTATAIS e a opinião delas é (ou deveria ser) a opinião do Governo. Bom, o governo deste país é descentralizado (no sentido de número de partidos e mais ainda número de políticos), inadequadro, imcompetente, ineficiênte, inconsequente e nada altruísta (“meu bolso vem primeiro”). A Petrobras não, a empresa cresceu inacreditaiveis porcentagens nos útlimos tempos, é considerada um ícone de orgulho para o país e mais do que isso, é respeitada nacional e internacionalmente, conforme diz o próprio Sérgio Gabrielli, em entrevista para a última edição da revista Exame, a Petrobras é a quarta instutuíção mais respeitada no mundo e a primeira das petrolíferas no que diz respeito a credibilidade.
Puxando o peixe para o meu prato, como futuro economista, o lugar onde quero chegar é justamente nas bordas econômicas. Vejamos, num mundo atormentado pelo bicho-papão que se tornou a Crise (sim!, com C, maíusculo) qualquer selo de confiança é um chamariz para que investidores tragam suas carteiras a procura de investimento. Conforme escrevi em meu blog, a Petrobras é uma empresa que emprega uma média de 70 mil funcionários. Será que você adivinha o que significa uma queda nos investimentos da empresa? Pois é, dizem que o salário de jornalista é pouco. Mas ainda é um salário. Já, ex-funcionários demitidos não têm salário.
O que eu quero deixar claro, Renato, é que (na minha opinião) a coisa tomou um rumo esquisito. Virou briga de duas crianças mimadas. Os comentários dos funcionários da Petrobrás me parece ter o mesmo significado de “bobo, feio, e chato!”. A imprensa tomou as dores, porque o brinquedo que ela mais gosta, a liberdade de imprensa, foi quebrado (ou copiado, pela Petrobrás que decobriu, talvez até sem querer, na web 2.0 um tiro certeiro contra o ego dos jornalistas e demais meios de comunicação).
Em relação à corrupção, Gabrielli se dispôs a comparecer, ele e a turma toda, sempre que forem chamados.
A pergunta que deve ser feita na conclusão dessa história toda não é outra senão essa: vale mais o ego ferido de um jornalista ou o arroz e feijão no prato de um pião de obra contratado pela Petrobras?