Diz o saber popular que nada como um dia depois do outro. Abrir a boca ou usar a virgindade do papel em branco para lançar acusações levianas ou oportunistas é muito fácil; aliás, facílimo, coisa que até um tolo é capaz de fazer. O bom da vida é que suas sinuosidades incandescentes rompem com a linearidade do discurso, cobrando coerência e retidão para aquilo que é falado ao vento. O homem público tem que cuidar do que diz; uma vez dito, virou pedra em letras de bronze. É claro que a todos é dada a possibilidade de evoluir, avançar em ideias e rever conceitos. Mas, na política, a retomada ou mudança de posicionamentos passados deve ser publicamente justificada, sob pena de tornar a palavra em mero joguete dos interesses momentâneos.
Pois, então, que somos surpreendidos com uma notícia, no mínimo, sui generis: o governo do PT, incansável crítico e combatente voraz da “privataria tucana”, concedeu à iniciativa privada três dos principais aeroportos do país (Guarulhos, Brasília e Viracopos) pela assustadora quantia de R$ 24,5 bilhões. O valor, notadamente, não é de bagatela; a cifra impressiona até a mais preparada e superior personalidade. Visto isso, será que os tempos mudaram, trazendo consigo novas convicções e posturas? Será que bandeiras políticas históricas, sempre exaltadas em alto estandarte, poderiam ser silenciosamente baixadas ao sol do novo ano? Seria isso coerente e politicamente elevado?
Bem, as perguntas poderiam prosseguir ao infinito dos mares, mas o que importa para a vida vivida são as soluções efetivas. No caso, não posso dizer que a mudança foi boa ou má; não tenho competência institucional nem legitimidade divina para emitir tais juízos de valor; mas, sem dúvida, algo mudou no sentido literal da expressão. E mudou porque aquilo que era apontado como fato odioso se transformou em política de governo. Sem cortinas, aqueles que condenavam a entrega do patrimônio nacional, agora, quando investidos no poder, também foram mordidos pela mosca do tal “entreguismo estatal”. Ou será que a privataria atual deixou de ser entreguismo e virou “concessão”, “leilão” ou outro termo bonitinho para justificar o injustificável?
Frisa-se que os méritos ou deméritos da medida estão fora da presente análise. Até mesmo porque, se houve a privatização dos aeroportos, é de supor que a medida foi implementada por ser positiva e necessária; seria impensável raciocinar de forma diversa. Logo, a discussão aqui é de outra natureza; diz respeito com a necessária coerência interna do discurso político de envergadura. Afinal, é a firmeza da palavra que garante a crença da soberania popular e sua inerente confiança na autoridade das instituições republicanas. Já foi dito que ideias não são metais que se fundem, assim como lideranças não são construídas com metais maleáveis. Na verdade, é difícil falar em líderes ou em formação de lideranças em uma sociedade incolor, cuja nota alta tem sido uma preocupante apatia homogênea; os que se atrevem a respeitar a individualidade do seu ser e não se curvam para os discursos e esquemas de planificação mercantil do indivíduo são vistos como reacionários ou conservadores de plantão. Nesse ambiente servil, a sociedade vai perdendo sua identidade crítica para aceitar, calada, as mais absurdas estultices.
Não há dúvida de que mudança faz parte da marcha cambiante da vida. Portanto, se o PT mudou e passou a vestir um vistoso bico tucano, é importante que seja dito, que seja explicado, que seja esclarecido. Até mesmo porque é inaceitável pensar que o povo não está vendo o que está acontecendo. E qual seria a diferença entre os tipos e estilos de “privataria”? Ora, uma é feita de estrela, enquanto a outra segue o voo dos pássaros. Talvez uma seja mais coerente do que a outra, pois alguns parecem ter esquecido o que diziam lá atrás. Infelizmente, em um país de memória curta, todos, salvo honrosas exceções, cintilam no céu da incoerência política perante uma sociedade descrente e passiva. Aliás, quanto vale a privataria da consciência política dos brasileiros?
É triste perceber que as pessoas não cobram coerência do Partido que está no poder e, por isso mesmo, eles se vêem livres para dizer palavras ao vento.
A diferença é a seguinte: na era FHC se privatizava por ideologia. Hoje se privatiza por força da contingência… Será que é difícil perceber a diferença?
Nobre,
Seu texto até seria interessante se não fosse a diferença de duas palavras: Concessão e Privatização.
O Governo do PT concedeu por um determinado periodo de tempo a administração dos Aeroportos.
E você pode até argumentar, que seria a mesma coisa, mas eu aconselho o Nobre a ler o texto do Governo do Estado de São Paulo, da secretaria estadual de Logistica e transportes que fala sobre Rodovias Concedidas. Lá o Governo Tucano reconhece a diferença de concessão.
Então antes de proferir leviandades, saiba a diferença das palavras e aprenda que Conceder não é privatizar. E os Tucanos foram especialistas em vender nossos patrimônios públicos.
o comentario do senhor valmir ,diz tudo, os jornalista devia fazer a reportagem ,e nao dar a sua opiniâo…..parabens valmir…
os petistas, antes de chegarem no poder, nunca falaram em concessão. Hoje ja existe?
O Lula quando presidente disse, de forma arrogante, que iria acabar com a oposição. De fato ela foi enfraquecida, não porque aqueles que antes o pt tanto criticou perdessem seus mandatos mas por terem mudado de partido e se aliado ao pt para juntamente com o mesmo praticarem os maiores atos de corrupção já registrado na história do nosso pais. Não era o pt que tratava o collor, seu sarney e tantos outros como demonios? mudam muito fácil de opinião. Talves seja isso o motivo de adrirem as privatizações.
Esse patrimonio publico so servia a interesses partidarios,desafio ao petista ai,vamos comparar numeros?se nao fosse essa venda de patrimonio,como vc diz, vc nao estaria nem aqui com seu cinismo,acorda petista,cegueira tem limite.
Os comentários petistas são previsíveis: dois pesos e duas medidas, SEMPRE. O que os outros fazem é entreguismo, privataria. O que eles fazem é corretíssimo, visto que são os legítimos e derradeiros donos (e porque não dizer, autores) da verdade. É um exercício interessante, embora doloroso, imaginar o que teria ocorrido se o plano Real não tivesse sido implementado e o PT tivesse vencido em 1994. Uma provável sequência de planos mirabolantes baseados em congelamentos e confiscos. Duvido que o endeusamento do ex-presidente, mesmo com todo marketing, seria possível. Teria sido tenebroso e poderíamos ter tido uma convulsão social. Seguramente não estaríamos onde estamos hoje.
Só quem é cego não consegue enxergar que concessão e privatização são a mesma coisa.O governo FHC também concedeu (privatizou) as empresas de energia a posssibilidade de explorar o fornecimento de energia por um determinado periodo de tempo. Da mesma forma como o PT faz agora. Qual a diferença? Só o nome dado! Mas eu vejo isto como uma boa notícia, pois podemos ver um choque de realidade no PT.
E bem a cara do PTZINHO fazer concessão e não privatizar.
Privatizar e mais honesto com quem compra, essa pessoa pode investir que sabe que terá o retorno.
Na concessão o poder privado investe, moderniza e entrega novamente ao estado que não conseguiu fazer isto, trocando em miúdos e bem a cara do PT fazer isto.
Graças a privatização, que na verdade foi concessão, hoje você não paga mais uma fortuna por uma linha telefônica, o que ocorria no passado, patrimônio publico é uma ideologia ultrapassada, se as empresas brasileiras não tem competência para administrar serviços “públicos” ou ao “público” que venham as estrangeiras para trazer benefícios a população. Nacionalismo não serve quando o nosso bolso, conforto e desenvolvimento esta em jogo. Veja os correios, é um lixo!