Um dos temas que, em meados do século XX, mais empolgavam o debate político, econômico e social brasileiro era o da reforma agrária.
E não é surpreendente que assim fosse: abrigando em 1950 e 1960, respectivamente, 63,8% e 54,9% da população, a área rural era palco de dramáticos índices de pobreza e de desperdício dos fatores de produção terra e mão de obra.
Mas, lamentavelmente, a reforma agrária não aconteceu. Em seu lugar ocorreu um longo, sofrido e desequilibrado processo evolutivo do cenário rural que culminou, na década de 90, com uma verdadeira revolução capitalista no campo. Hoje, embora os contrastes sociais não tenham desaparecido, vários segmentos do setor primário exibem elevados níveis de produtividade. Ademais, a população rural representa agora apenas em torno de 18,5% da total.
Assim, a temática da posse da terra deixou de ser um ponto crucial do desenvolvimento do setor agropecuário e de melhoria no padrão de vida nele prevalecente.Levando em conta essa evolução, torna-se injustificável a existência e o comportamento do Movimento dos Sem Terra, visto que o teor declarado, mas talvez não verdadeiro, de suas reivindicações está ultrapassado.
Mesmo sem analisar os aspectos violentos, ilegais e suspeitosos das atitudes do MST, seu próprio pretexto de existência é débil e incompatível com a realidade brasileira de hoje. Por outro lado, existem evidências de que a maioria de seus participantes nem é de agricultores.
Entrincheirado na premissa de que a solução para a pobreza rural encontra-se em dar terra a quem não tem, o MST insiste no slogan “um pé de chão para cada peão”. Além de irrealista, esse propósito é descabido.
As agruras do peão não decorrem necessariamente da falta de terra própria, mas sim da falta de uma fonte segura de rendimento que lhe garanta qualidade digna de vida. Essa fonte tanto pode ser asua propriedade, quanto o trabalho regulamentado e bem remunerado em estabelecimento de terceiros.
O setor agropecuário dispõe de potencial para proporcionar aos seus trabalhadores um nível de renda superior ao atual. No entanto, o MST ignora a batalha para o alcance desse potencial, concentrandose, pelo menos na aparência, na questão da posse. Se todo camponês possuir seu pedaço de terra, quem trabalhará com o a s s a l a r i a d o n a s propriedades maiores? Ou será que alguém sonha transformar a paisagem agrária brasileira em um vasto conjunto de minifúndios? O esforço de maximizar o assentamento de agricultores desprovidos dos meios adequados de sustento e que desejam seu pé de chão deve ser mantido, mas não como solução universal.
Opor-se ao MST apenas por considerálo baderneiro constitui uma forma equivocada de interpretar o fenômeno. O fundamental é apontaro teor anacrônico de sua suposta finalidade.
No entanto, a maioria dos políticos e das autoridades em geral limita-se apenas a criticar os atos delinquentes por ele praticados.
No caso do presidente Lula, quando ocorrem diabruras exageradas, tais como invasão de fazendas produtivas e edifícios públicos, seu governo limita-se a dar um puxão de orelha nos dirigentes do movimento quando, de fato, deveria cortar de vez suas asas.
O perigo dessa omissão consiste em transformar o MST em um foco crescente de intranquilidade, debilitando o ritmo de modernização da atividade agropecuária e o avanço das autênticas conquistas do trabalhador rural. Na verdade, o fundamental seria instituir o Movimento dos Sem Renda, destinado a reivindicar políticas redistributivistas direcionadas para toda a população do país.
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