As taxas de juros praticadas pelos bancos brasileiros são, em geral, escorchantes?
Sem a menor dúvida. Mesmo com os cortes, ainda são.
O governo fez bem em usar os bancos públicos para “convencer” – digamos – os bancos privados a reduzirem suas taxas?
Sem a menor dúvida. Assim como usa a Petrobrás para manter estáveis os preços dos combustíveis… com riscos para o futuro da empresa e da exploração das reservas do pré-sal.
A economia brasileira poderá, nos próximos meses, ganhar impulso com essa queda dos juros? Um pouco de impulso adicional ela pode ganhar, sem dúvida.
Do ponto de vista político-eleitoral, o governo melhorou o seu ativo? Sem dúvida.
Então, concluindo, o grande e festejado acontecimento econômico-financeiro da última semana, no curto e no médio prazos teve ou terá efeito positivo também para os atuais governantes (do ponto de vista político-eleitoral) e para a população (do ponto de vista econômico), o que nem sempre acontece – na verdade, raramente acontece.
Podemos, pois, garantir que o magno problema do desenvolvimento sustentável da economia brasileira a longo prazo está resolvido? Os pais e mães cujos filhos estão nascendo hoje podem esperar que, nos próximos 3o anos, eles estarão vivendo num país que lhes ofereça – e, então, aos seus familiares – perspectivas mais seguras e promissoras do que as que são oferecidas hoje?
Falamos não só de bons empregos e melhores salários – o que também é necessário. Mas falamos de melhor convívio; maior segurança nas ruas; melhores condições para planejar a vida de uma família; de ambiente social e urbano menos agressivo, com maior adesão às normas de civilidade e urbanidade; de melhor formação educacional, cultural e técnica; de menores interferências arbitrárias dos governos na vida e nos bolsos das pessoas; de menos desfaçatez, corrupção e esbórnia entre os quadros políticos. Falamos, enfim, de tudo aquilo que é imperativo para o verdadeiro desenvolvimento futuro do País.
Infelizmente, a tais quesitos não podemos dar respostas afirmativas, isentas de dúvidas, pelo menos por enquanto.
Mas podemos chegar lá. E para isso, baixar os juros, igualando-os ao nível internacional, é apenas um passinho miúdo.
A economia brasileira é a sexta do mundo, como vem sendo largamente proclamado. Mas atenção: é a sexta do mundo no tamanho, porque o país é grande; não na qualidade e muito menos nos serviços que presta à população em geral. É muitíssimo maior do que a economia da Suíça, por exemplo. Mas, sem querer melindrar os ufanistas fanáticos, que mandam e-mails acusando-nos de derrotistas por nossas críticas, não há como comparar a qualidade que a economia da Suíça oferece à sua população com a que a do Brasil oferece – qualidade de vida presente e qualidade de segurança e perspectivas futuras.
Hillary Clinton saudou nossa presidente Dilma como um exemplo no combate mundial à corrupção. Bom que seja. Mas a verdade é que ela já detém o título de campeã mundial no número dessas batalhas, tamanha a quantidade de “malfeitos” com que se tem defrontado. Duvido que algum presidente atual, de nação responsável, tenha diante de si tantos malfeitores com que lidar e, pior, para cortejar. Isso não é um problema só brasileiro, certo. Mas a larga dose de impunidade e a cultura nacional do “xá-prá-lá” e do “aliso as suas costas, se você alisa as minhas” são coisas nossas, muito nossas, como diria Noel Rosa, e inerentes ao tipo de governança que inventamos.
Ora, exatamente por a economia brasileira adquirir hoje, pelo seu tamanho, importância inédita no mundo é que a seriedade e o rigor dos brasileiros no trato dos malfeitos e com os malfeitores passam à categoria de ativo a ser levado em conta por nossos parceiros. A competitividade certamente é um fator importante para uma economia que quer e precisa se inserir no mercado internacional. Digo precisa pois, no mundo moderno, nenhuma economia progride se não é internacionalizada. Mas outros fatores, talvez até decisivos, são a confiabilidade e a credibilidade não só do que uma economia produz, mas de como negocia seus produtos.
A competitividade da economia brasileira é baixa não só por causa dos juros altos, mas por causa também dos impostos altos, de uma infraestrutura de transportes carente e precária e, na área industrial, pela falta de inovação e design, agravada por mão de obra altamente improvisadora, mas pouco eficiente, que resulta em produtividade deficiente, num setor que cresceu protegido pelo Estado.
São problemas de grande magnitude a demandar décadas de esforços para serem corrigidos. Mas o que preocupa não é o tamanho do problema, mas o fato de, há anos, nenhum governo nos oferecer um plano estratégico global na boa direção, um plano plurianual com metas a serem discutidas, aprovadas e buscadas. O que vemos é só o Executivo em permanente negociação de projetinhos de lei com a base governista no Congresso – na qual pululam malfeitores e contraventores. Não é assim que deixaremos de ser uma economia de segunda mão.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 23/04/2012
BRAVOS!!!