O ex-presidente Luiz Inácio deixou o governo faz pouco mais de sete meses dizendo que fora o maior e melhor de todos os governos; faz pouco mais de sete meses que sua sucessora assumiu a presidência; registrando os fatos e ainda a circunstância de que no ano em curso já irromperam alguns episódios de suma gravidade envolvendo altos serviços públicos federais, é de perguntar-se se os fenômenos envolvendo a Casa Civil e os Ministérios dos Transportes, Agricultura e Turismo seriam de responsabilidade da atual presidente ou do anterior. A questão é relevante e deve ser esclarecida, embora não haja instrumentos para aferir os resultados desejáveis.
Os fatos que mais têm chamado a atenção pública não são de gestação recente, e nem sempre as pessoas dirigentes são novatas na organização, pois algumas vêm da administração anterior, razão pela qual haveria uma corrente de solidariedade entre ambas, e até a mesma identidade física de alguns funcionários em postos de direção. De modo que, em linhas gerais, o atual governo continua o anterior, como o anterior se continua nesse, mutatis mutandis, sem falar na identidade partidária entre ambos, e até na participação do antigo governante na composição do atual.
Por essa razão, simples e objetiva, não me parece relevante o fato haver ocorrido entre o fim de um governo e o início de outro. Fossem de origens e concepções antagônicas poderia haver mudanças substanciais em seis meses; não é o caso.
Isto posto, posso dizer que a água que corre vem da água que já correu, ainda que neste ou naquele setor o quadro tenha mudado. De modo que, a extensão das considerações que venho de fazer me autoriza a afirmar que não vejo um conglomerado novo, entre o de ontem e o de hoje.
Por isto, passo a declarar a furunculose pública e em muitos casos também privada, na medida em que uma não se opera não havendo a outra. É claro que não tenho conhecimentos cabais de todos os casos publicados, com larga repercussão na opinião pública, mas o eco por eles produzido e os efeitos já aparecidos autorizam sejam vistos com credibilidade.
De outro lado, o fato de algumas providências tomadas pela senhora presidente em certa medida diferirem das do governo anterior não importa em quebra da identidade entre as duas situações.
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Não posso deixar de manifestar o horror que me causou a execução contratada que vitimou juíza do Rio de Janeiro, de 47 anos, já ameaçada por supostas organizações criminais, cujos membros teriam sido por ela condenados. A ser verdade o fato, não sei o que dizer acerca de sua hediondez e da espantosa deformação verificada, por haver cumprido seu dever cotidiano. Afinal, tratar-se-ia da magistrada executada pagar com a vida pela regular aplicação da lei no exercício da jurisdição. E isso aconteceu no coração do Estado do Rio de Janeiro. Para aumentar a dose de intimidação, à entrada de seu domicílio, e mediante 21 balaços.
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