Existe um fenômeno que poucos observam quando o assunto é o espantoso crescimento do futebol brasileiro como negócio, retratado com precisão pelo repórter Fábio Suzuki nesta edição do “Brasil Econômico”.
Desde 2003, quando o Brasileirão passou a ser disputado em dois turnos pelo sistema de pontos corridos, existe clareza sobre o regulamento.
E desde 2006, quando passou a ser disputado por 20 clubes, não existe quem não saiba que o campeão será o time que somar mais pontos ao fim das 38 rodadas.
Também é claro que o campeonato começa sempre no final de abril (ou início de maio) e termina no início de dezembro – o que permite que os clubes mais profissionalizados adotem uma ferramenta indispensável a qualquer negócio: o planejamento.
É lógico que as condições de regulamento e calendário não eliminam, apenas dificultaram a ação de fabricantes de resultados. Mas também é lógico que elas deram à disputa uma transparência inédita desde 1971, quando se organizou o primeiro campeonato nacional digno desse nome.
A evolução só teve início neste século e foi acelerada. Mas é preciso avançar mais. É preciso, por exemplo, melhorar a qualidade das arbitragens. É preciso, também, que a transmissão das partidas deixe de ser um monopólio e que os clubes possam ter canais próprios para a transmissão de seus jogos.
Mesmo com tudo isso, o ambiente em torno do futebol já não é tão suspeito como no tempo em que Eurico Miranda, o ex-presidente do Vasco da Gama, era visto como um exemplo de cartola eficiente. Seus hábitos eram suspeitos, mas ele vencia.
Hoje, muitos clubes (ouso dizer que a maioria) estão nas mãos de gente séria. É por esse motivo que o Brasileirão já ocupa a sexta posição no ranking do valor dos principais campeonatos nacionais de futebol.
Conforme a reportagem publicada nesta edição, ele vale US$ 1,3 bilhão. É muito dinheiro.
O número é promissor, mas parece certo que o futebol brasileiro, como negócio, ainda não alcançou a maioridade. Não faz tanto tempo assim, ninguém tinha a menor noção sobre a origem nem sobre o destino do dinheiro que movia o futebol. Hoje, os clubes são obrigados a publicar seus balanços.
As demonstrações financeiras ainda não são perfeitas e, em sua maioria, ainda não têm a chancela de auditores independentes. Mas é inegável que há mais clareza sobre a origem do dinheiro que movimenta o esporte e muito menos espaço para o caixa 2 nos clubes.
Os clubes da primeira e da segunda divisão vivem de “recursos contabilizados”: os direitos de transmissão de suas partidas, as cotas de patrocínio, o comércio dos direitos sobre os passes dos atletas e as rendas dos jogos (o mais irrisório desses valores).
Este ano, os 380 jogos da primeira divisão renderam mais ou menos R$ 120 milhões. É muito? Bem… o atacante Neymar, do Santos Futebol Clube, ganha R$ 3 milhões por mês. Ou seja, apenas esse atleta custa a seu clube mais de um quarto da bilheteria de todos os jogos da primeira divisão. Nada contra o salário de Neymar.
Aliás, seria ótimo se houvesse outros 20 jogadores com o mesmo talento e os mesmos vencimentos. Mas isso só acontecerá no dia em que o negócio futebol alcançar sua maturidade.
Fonte: Brasil Econômico, 05/12/2011
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