Caro irmão, você que está vivendo uma situação desesperadora, que se sente esgotado, estressado, sem saída, eis aqui um convite. Junte-se a nós, dê uma chance ao poder divino da política, venha descobrir que o Estado pode salvar a sua vida.
O jovem cheio de esperança, a senhora solitária que veio até aqui nos conhecer, tenham certeza que há um candidato olhando para vocês, um vereador proibindo alguma coisa na cidade, uma presidente com poder e sabedoria guiando o país.
É verdade, irmãos, que os últimos tempos não têm favorecido a crença no Estado. Há séculos pregamos que a educação, a saúde e o transporte público vão funcionar, e o que vemos são enfermeiras de postos de saúde injetando café com leite na veia de senhoras idosas.
Apesar disso, irmãos, o Estado nos pede que ignoremos esses problemas e perseveremos na fé -a fé de que um dia algum político nos conduzirá a um reino de paz e justiça social.
Irmãos, a mensagem mais importante a vocês é sobre dois graves riscos que nós corremos nas eleições deste domingo. O primeiro deles é que religiões influenciem a disputa para a chefia de nossos alvíssimos palácios. Isso é um absurdo, irmãos!
Religiões se baseiam em mundos imaginários, irmãos! Em ideias obscuras! Nós, ao contrário, lidamos com o mundo real! Com princípios científicos! Por exemplo, quando almejamos postos de saúde com a mesma qualidade dos melhores hospitais particulares, ou bancos estatais livres da influência de partidos: é a realidade, senhores! Nossos sonhos são perfeitamente realistas, irmãos!
A outra ameaça é eleger sacerdotes que não creem nos poderes do Estado. Gritem comigo: eles são hereges! Eles são demônios! Eles são neoliberais! Querem privatizar a Entidade Nacional do Reino Estatal! Precisamos atirá-los nos calabouços das derrotas eleitorais, irmãos!
Calma, senhora, não precisa jogar cheques e notas em nossos pés. Os sacerdotes fiscais já trataram de reter parte de seu salário e embutir nos preços do mercado a taxa de manutenção de nossas obras divinas. O valor está passando um pouco do dízimo -beira 40% de sua renda- mas acredite, minha senhora: todo ele é destinado ao bom caminho, à construção do paraíso escandinavo, ao poder infinito e sagrado do Estado.
Fonte: Folha de S. Paulo, 28/10/2012
Quem mais depende do Estado no Brasil são as oligarquias e o empresariado. O patrimonialismo é um projeto da direita liberal-conservadora desde sempre. Roberto Campos é um exemplo dessa demagogia, sempre foi burocrata, diplomata, secretário, ministro, baba egg da burocracia da ditadura, mas pregava estado mínimo para os pobres e miseráveis
Muito bom.
Aliás, a eleição já acabou.
Em são Paulo foi assim, em porcentagem de TODOS os votos:
38,2% Haddad
31% Abstenção, Nulos e Brancos
30,8% Serra
Timotheo, você está confundindo liberalismo com anarquismo. Erro primário e indesculpável.
Indique um excerto de um autor liberal que pregue a extinção dos corpos de diplomacia.
O eminente repórter tem fé que as empresas privadas, com seu culto fervoroso ao lucro, e o poder divino e restaurador das forças de mercado é que “irão nos conduzir a um reino de paz e justiça social”… Tem cada crença maluca nesse Brasil multirreligioso…
Irmão, use o transporte público e verá que ele, todo nas mãos do setor privado, também não favorece a fé cega no Todopoderoso Smith e seu espírito-santo mercantil.
Volte um pouco à década de 1990 (não necessariamente no Brasil) e abale sua fé. Lá o mercado quase engoliu nosso Sacro-Estado e não instaurou na Terra o Reino da Justiça Social (acho que se aproximou mais é do reino lá de baixo…).
Abrs.