Já não é tão difícil encontrar na mídia analistas que veem numa possível vitória de Dilma Rousseff (PT) uma “mexicanização” das eleições no Brasil. A referência é ao passado do Partido Revolucionário Institucional (PRI) do México, que governou aquele país por cerca de 70 anos. O PRI garantiu certa estabilidade ao México ao mesmo tempo em que um grupo único se perpetuava no poder. Rotineiramente faziam mobilizações populares a qual chamavam de eleições (uma prática que ocorria até no Iraque de Saddam e na Cuba de Fidel), mas com desfecho conhecido: legitimar o nome indicado pelo governo.
No México do PRI, a corrupção era alta e conhecida, o populismo cultuado e a administração ineficiente. Parece similar ao que temos hoje no Brasil, correto? Até certo ponto. Sugiro uma analogia que considero melhor: o Brasil está passando por um processo de russiarização. A palavra não soa bem e nem é auspiciosa no que significa, mas parece se assemelhar mais ao processo que está em curso no país.
Vejamos o que nos distancia do México e o que nos aproxima da Rússia contemporânea. Primeiro, na política externa, a ambição global de Lula/Marco Aurélio Garcia/Celso Amorim não encontra paralelos com o México do PRI. Para esse trio, não basta se consolidar e mandar no Brasil, é preciso exportar certa ideologia para o restante do continente e até do globo. A Rússia, como potência militar e energética e membro do Conselho de Segurança com poder de veto, se assemelha mais ao tamanho da ambição brasileira.
Segundo, na economia, o México do PRI teve uma fórmula parecida à ditadura brasileira, com forte investimento estatal, planos de desenvolvimento e política de substituição de importações. Já a Rússia atual parece ser uma economia de mercado, mas dominada por oligarcas que estão em simbiose com o poder político. A força de estatais é grande – como a Gazprom – mas há empresas privadas lucrando muito e se expandindo. No Brasil atual, o grande financiador é o crédito governamental do BNDES e fundos de pensão e cada vez mais ter boas conexões em Brasília é um requisito para sucesso empresarial.
Terceiro, uma vez cumprido o seu mandato, o presidente do México no tempo do PRI indicava o seu sucessor, na prática conhecida como “dedazo”. Entretanto, uma vez feita a escolha e empossado o novo presidente, o poder ia agora para o novo caudilho, que teria sua própria hora de fazer o “dedazo”. Na Rússia, Vladimir Putin achou pouco seus oito anos de governo e escolheu um sucessor que não lhe fizesse sombra, Dmitry Medvedev. Este, após eleito, indicou Putin como primeiro-ministro, que continua mandando de fato no governo. Medvedev foi escolhido igualmente pelo sistema do dedazo, mas com o compromisso de manter o poder de Putin. Lula, que antes defendia que ex-presidente não podia dar “palpite”, já fala que vai pegar o telefone e ligar para a sua “presidenta”. Nas palavras dele: “Não, eu vou vir para o sertão brasileiro, viajar este país inteiro, para ver o que eu fiz, ver o que eu não fiz. Se tiver uma coisa errada, pegar o telefone e ligar para a minha presidenta: olha, tem uma coisa aqui errada.”. Não precisará ter um cargo formal, mas ao escolher a pessoa menos apta e mostrar que consegue eleger até poste, Lula provará que quem tem capital político é ele e poderá mandar e desmandar ou voltar em pessoa quatro anos depois. Medvedev, assim como Dilma, era apenas um tecnocrata que nunca havia ocupado um cargo por eleição.
Para terminar, o México rompeu com o passado do PRI desde a eleição de Vicente Fox (PAN) em 2000, numa campanha em que o antigo partido já havia abandonado o “dedazo” e adotado primárias entre seus candidatos. Já o novo sistema de autoritarismo da Rússia está em construção, bem como o brasileiro do PT e de Lula. Ambos utilizam os braços do estado para sufocar a oposição e tem horror à imprensa livre, mas convive com elementos externos que dão a aparência de normalidade, como multinacionais ganhando o mundo e eleições de dimensão continental. É uma institucionalidade nova, com características próprias.
Portanto, aos que acham que o Brasil está se mexicanizando, desconfio que estejam errados. A situação pode ser ainda pior.
Publicado em “OrdemLivre.org”
El cambio de poder en México en el 2000, fue una mezcla entre hartazgo de la sociedad, despues de 70 años de poder del PRI y una campaña publicitaria muy buena por parte de Vicente Fox (PAN).
Ahora la campaña publicitaria la hace el Propio Lula con recursos del pueblo, para perpetuarse en el poder… Lastimoso y espero que Brazil no se encuentre reflejado en los problemas de México en 10 Años.
Por cierto la corrupcion no disminuyo con la salida del PRI se mantuvo en los mismo niveles,
Quem inventou reeleição não foi o Lula. Quem inventou foi o FHC. Se o candidato do FHC tivesse ganhado nas eleições em que Lula (PT) ganhou (1ª vez) o governo do PSDB teria caminhado para 12 anos. Ou mais… Quem sabe? É uma especulação.
Acredito que temos sim… de ser vigilantes, muito vigilantes. Pois nossa democracia é um feto se comparada com outras…