O BNDES estima que a taxa de investimento subirá de 18,4% para 22,8% do PIB entre 2010 e 2014, o que implica expressivo aumento de 4,4 pontos porcentuais na taxa de poupança. Por aí, a economia cresceria em média 4,4% no governo Dilma, mais do que os 4% dos dois mandatos de Lula, mesmo que o ambiente internacional não seja tão favorável ao Brasil.
O crescimento decorre de três fatores: investimento, disponibilidade de mão de obra e produtividade. O êxito depende de instituições que incentivem os empresários a assumir riscos, investir e inovar. Demanda também força de trabalho qualificada, tributos funcionais, leis e Justiça que protejam direitos de propriedade e contratos, boa infraestrutura e oferta de crédito e de capitais em condições adequadas.
O investimento depende da poupança. Há países que poupam mais do que investem, caso da China, e exportam o excedente. Outros dispõem de amplas oportunidades de investimento, mas não poupam o suficiente, caso do Brasil, e precisam de poupança externa.
Grosso modo, a poupança externa resulta do déficit nas exportações e importações de bens e serviços. Requer-se prudência no seu uso. Admite-se como razoável absorver até 3% do PIB de poupança externa, evitando-se recorrer excessivamente a endividamento e a capitais de curto prazo para financiá-la. Do contrário, o país fica vulnerável a crises que inibam o fluxo de recursos.
O Brasil já se aproxima desse nível. Estima-se em 2,5% do PIB a poupança externa em 2011. Se a expansão do investimento depender dessa poupança, precisaremos de algo como 7% do PIB. A Grécia anda por aí e deu que no deu. O governo diz, corretamente, que não quer a elevação do déficit externo. Assim, seria necessário elevar a poupança doméstica nos mesmos 4,4 pomos porcentuais do PIB. Hoje ela é de 16% do PIB.
Essa poupança tem três fontes: famílias, empresas e governo. Em nenhuma delas dá para esperar forte aumento no governo Dilma. Em geral, a poupança das famílias vem da necessidade de assegurar aposentadoria, saúde e educação superior dos filhos. A Constituição de 1988 aumentou muito as transferências nessas três áreas, inibindo os incentivos para poupar. É alta, por outro lado, a propensão a consumir dos brasileiros.
A poupança das empresas depende de sua rentabilidade. Em ambiente crescentemente competitivo, é difícil ver aumento expressivo de lucros. No governo, a pressão por gastos sociais e a rigidez orçamentária – que se agravou nos últimos oito anos – dificultam a elevação dos níveis de poupança. Reformar a estrutura dos gastos é difícil.
A China investe 48% do PIB, mas poupa 52%: 22% nas famílias, 19% nas empresas e 11 % no governo. Explicações: nas famílias, o hábito de poupança e as reduzidas transferências para educação, saúde e previdência, que diminuíram com a privatização e outras reformas econômicas; nas empresas, a alta rentabilidade; no governo, a moderação dos gastos e os ganhos de arrecadação com uma carga tributária razoável, de 20% do PIB (35% no Brasil). Os gastos previdenciários são de 2% do PIB (12% no Brasil). Só em pensões por morte gastamos 3% do PIB. A invejável situação chinesa deriva de imposições do seu regime autoritário, que não queremos.
Sem elevar a poupança doméstica ou recorrer ao déficit externo, o investimento projetado pelo governo implicaria sérios desequilíbrios macroeconômicos: inflação, mais déficit externo (mesmo que o governo não queira) e valorização da moeda, prejudicando a indústria.
A saída para crescer seria aumentar a produtividade. Antes da crise atual, os Estados Unidos cresciam 3%, investindo 15% do PIB. O grande impulso vinha da produtividade. Nesse campo, há muito a fazer para reduzir custos e elevar a eficiência da nossa economia: retomar as reformas estruturais e privatizar serviços de infraestrutura de transportes.
A presidente Dilma tem dado passos animadores com as concessões de aeroportos. Diz-se que fará o mesmo nos portos fluviais. É uma reviravolta diante da inação de Lula, motivada essencialmente por razões ideológicas. Se ela avançar mais, o crescimento poderá chegar próximo do projetado, mesmo sem a tal expansão do investimento.
Fonte: revista Veja
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