O Brasil retrocede. A constatação desse fato é o crescimento médio do PIB abaixo de 1% nos últimos dez anos. Inédito na história econômica brasileira. Retrocedemos com a Lava Jato no campo econômico e agora com a pandemia. Tivemos o azar de que em ambos os momentos quem estava à frente do país serem governos fracos e confusos e que não souberam se posicionar diante de acontecimentos dessa magnitude. Essa conta está sendo paga pela geração Y, os ¨millennials¨ e pela geração Z. Parece que os governos no Brasil não se cansam de dirigir o país olhando pelo retrovisor e com isso só vem atrasos, soluções parceladas ou projetos pessoais. Isso é o que eu chamo da síndrome do retrovisor. No campo da política não conseguimos eleger, nem promover lideranças novas da geração Y e o resultado são presidentes que representam um passado de ideias, não trazendo soluções e inovações modernas, que coloquem o país numa rota de crescimento sustentável. Vivemos a política do pêndulo. Hora queremos subsídios para todos, presença do Estado em todos os setores da economia e pouco cuidado com os gastos fiscais. Hora somos os bastiões do liberalismo proclamando zero de subsídios, ditadura fiscalista, privatização de tudo e a soberania total do mercado. O Fla x Flu nos imobiliza diante de um mundo novo. Um exemplo é a politização da condução da pandemia. De um lado um governo negacionista que perdeu o controle da saúde ao não planejar a compra de vacinas. Do outro, a velha política que se beneficia das barbeiragens do atual governo. O que mais vemos é a proliferação de projetos pessoais e zero de um projeto de Brasil para o mundo pós pandemia. Agora, pasmem, muitos acham que solução é a volta do presidente Lula. Mais uma solução de retrovisor.
No campo da economia as soluções de retrovisor como as parceladas e aquelas que só olham interesses específicos são as que prevalecem, em detrimento das que poderiam avançar transformando o Brasil do país do futuro em pais do presente.
No setor do petróleo a solução é a do retrocesso e com isso não conseguimos sair da armadilha da política de preços dos combustíveis. Toda a vez que o preço do barril aumenta e o real se deprecia vem uma crise política onde a vítima quase sempre tem sido a Petrobras e seus acionistas. Uns defendem que a única solução é os consumidores pagarem o preço do mercado internacional, outros a intervenção na Petrobras e os mais nacionalistas, que se venda combustível no Brasil pelo custo do petróleo aqui extraído. Esses são os defensores do modelo venezuelano. Ao invés das velhas ideias, deveríamos nos concentrar em encontrar saídas, através de políticas públicas, somente para o diesel e o gás de cozinha. E entender que empresas de economia mista no Brasil jamais irão funcionar.
No caso do gás natural a política tem sido a das soluções parceladas. Isso fica claro no texto da nova lei do gás que acaba de ser aprovado na Câmara. O texto é ruim? Não. Mas poderíamos ter avançado para levar o gás a um maior número de brasileiros e promover a integração gás e energia elétrica. Como? Construindo um texto que tivesse um olhar holístico para toda a cadeia do gás natural, entendendo a importância e o funcionamento de todos os elos da produção a comercialização. Porém, o texto acabou por incentivar judicializações e, com isso perdemos a oportunidade de criar e acelerar mecanismos legais que incentivassem investimentos no aumento da oferta de gás nacional e na expansão da infraestrutura.
No setor elétrico vemos um debate acirrado sobre geração distribuída e a tentativa de aprovar uma Lei que só beneficia a geração solar. Ninguém pode ser contra geração solar nem geração distribuída. Mas é preciso serenidade e transparência para construir uma solução em que os consumidores, em particular, os de baixa renda não paguem a conta dos que tem acesso a geração solar. Com o slogan não podemos taxar o sol querem aprovar um projeto Robin Hood às avessas. Afinal o sol nasceu para todos.
Nos biocombustíveis continuamos a ver uma pressão sobre a venda direta de etanol. A quem beneficia? A produtores ineficientes de etanol, aos sonegadores, jamais aos consumidores.
Até quando seremos reféns da síndrome do retrovisor?
Fonte: “Estadão”, 03/04/2021
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