A indústria automobilística teve uma queda de produção de 20%. As vendas de veículos novos também caíram 20% e as exportações mantiveram o mesmo patamar. Em outras palavras, temos uma crise séria em um setor que movimenta boa parte do faturamento industrial brasileiro.
Quando se fala em setor automobilístico, se fala numa longa cadeia que começa nas siderúrgicas para terminar nas concessionárias e nas oficinas que depois darão manutenção aos veículos. Se quisermos ir ainda mais longe, seria possível incluir na cadeia as lojas de veículos usados, ferros-velhos e desmanches.
Grande parte desta cadeia é, tradicionalmente, compradora de seguros. Não apenas as montadoras seguram sua atividade, mas as autopeças, concessionárias, oficinas mecânicas, lojas do mercado de reposição etc. – todos costumam contratar seguros para suas instalações, estoques, logística e pessoal.
São seguros patrimoniais de todos os portes, cobrindo diferentes tipos de imóveis, equipamentos, estoques, responsabilidades, lucros cessantes, interrupção de atividade, transportes, armazenamento, além de seguros de vida, acidentes pessoais, planos de saúde privados e previdência complementar.
Uma queda de 20% na ponta das vendas significa crise brava para toda a cadeia, atingindo com maior ou menor gravidade as indústrias, o comércio e os serviços, direta ou indiretamente ligados ao setor.
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O cenário é, evidentemente, pior para os diretamente afetados, mas é um quadro ruim também para outros setores econômicos, entre eles, seguros. Com a crise no setor automotivo, as seguradoras ficam expostas a uma série de indenizações de sinistros potencialmente cobertos, além de verem aumentar as chances da ocorrência de novos eventos, em função da queda de qualidade na manutenção das instalações e equipamentos.
Também ficam sujeitas à queda do faturamento, decorrente do cancelamento, não renovação, ou simples inadimplência do pagamento dos prêmios. Afinal, são milhares de empresas e milhões de pessoas que sentirão na pele o rigor da crise que deve se estender não apenas por 2020, mas também ao longo do ano que vem, até o País começar a retomar sua capacidade de desenvolvimento.
Não existe mágica e, numa situação como a atual, onde países desenvolvidos esperam déficits de dois dígitos em seus produtos internos brutos, não há razão para o Brasil não afundar numa recessão profunda, que vai quebrar empresas e gerar mais desemprego.
As seguradoras com forte participação de seguros direta ou indiretamente decorrentes do setor automobilístico devem sentir mais os efeitos da queda acentuada da produção e comercialização de veículos novos. Mas não são apenas elas que serão afetadas. Seguradoras de vida e acidentes pessoais, operadoras de planos de saúde privados e operadoras de previdência complementar, ainda que sem contato direto com a cadeia automotiva, também sentirão os efeitos da crise no setor.
Com certeza os vendedores de sanduíches com suas bancas nas portas das fábricas, o pequeno comércio no entorno, bares, restaurantes, padarias, lojas de roupas, de equipamento de informática e telefonia perderão receita em função do desemprego nas montadoras e indústrias de autopeças.
Além deles, o comércio em geral irá se ressentir do desemprego no setor, com a queda do consumo familiar impactando negócios que jamais esperariam ser afetados pela redução da produção de veículos novos.
Como não poderia deixar de ser, a atividade seguradora irá perder produção, sendo que alguns ramos, ainda por cima, serão afetados pelo aumento dos custos, ou saques, como deve acontecer com os seguros de vida, planos de saúde privados e previdência complementar.
Ninguém sabe qual será o final da pandemia do coronavírus, nem como o mundo vai sair da crise que se alastra por todos os países. Mas uma coisa é certa: enquanto a pandemia estiver no dia a dia do planeta, as mortes acontecerão, da mesma forma que grande parte das atividades econômicas serão pesadamente afetadas.
Fonte: “O Estado de São Paulo”, 20/4/2020