Analisar e discutir as práticas governamentais, sociais e econômicas, derivadas das teorias coletivistas é bastante útil para identificar, delimitar e evidenciar elementares equívocos. Contudo, é primordial a compreensão das premissas que estão implícitas nessas teorias, fundamentando o antagonismo entre os liberais e os coletivistas, para evitar que tais práticas equivocadas sejam reproduzidas no presente e no futuro.
A utilização popular de alguns termos, como sociedade, nação, igualdade e “povo brasileiro”, faz parte da formação dos mitos e fantasias sociais que compõem as estruturas simbólicas de nossa cultura. Noah Harari (2015) aponta que o compartilhamento de mitos e fantasias é inerente ao funcionamento do nosso sistema cognitivo e essencial para a manutenção de relações pacíficas entre os membros de um grupo.
Em geral, as crenças e os valores morais de um grupo são estabelecidos, organizados e reproduzidos de maneira orgânica pelos grupos, por meio de uma ordenação dotada de variáveis abstratas. Até o momento a racionalidade humana foi incapaz de detalhar esse processo a ponto de prever seus efeitos no comportamento humano. Isso ocorre em virtude desse todo social ser composto por indivíduos com comportamento autônomo.
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Como bem apontou Adam Smith (1776), nos idos do séc. XVIII, apesar de viver em um ambiente coletivo, o ser humano se comporta pautado por interesses pessoais. A evidência desse raciocínio pode ser verificada no cotidiano de qualquer um de nós e é ratificada por diversos sociólogos, como Gouldner (1960) que observou a reciprocidade como uma normal moral universal. Ora, a reciprocidade é pautada na relação de ganha-ganha, não na mera contribuição individual para o “bem” da coletividade.
As teorias coletivistas resultam em uma prática amplamente segregadora, o que é contraditório com os ideais de igualdade que são popularmente divulgados por seus defensores. Os governos socialistas, invariavelmente, formaram um núcleo de poder centralizado e totalitário que fracassou em todos os aspectos de gestão e suprimiu qualquer tipo de liberdade individual.
A premissa implícita nessa prática é a ideia de que o ser humano é naturalmente benevolente, entretanto a organização econômica capitalista teria corrompido nossos valores morais e nos impregnado de princípios individualistas. Não é preciso muito esforço para compreender que a espécie humana tem mais de 300 mil anos e a organização capitalista surgiu a aproximadamente 250 anos, portanto o capitalismo é o resultado daquela complexa ordenação abstrata de crenças e valores humanos, não o contrário.
Vale reforçar que as evidências empíricas apontam uma história recheada de barbárie e pestes, que resultou em uma expectativa de vida de aproximadamente 33 anos no início do séc. XX. Bastaram 120 anos de capitalismo “selvagem” para chegarmos a uma expectativa de vida geral de aproximadamente 72 anos, que ultrapassa os 80 anos para crianças nascidas em países com elevados índices de liberdade econômica. Por outro lado, a barbárie tem diminuído, Steven Pinker (2004) relata que nossa espécie nunca havia experimentado tempos tão pacíficos ao longo da história, com os menores índices gerais e mortes violentas.
Entretanto, alguns teóricos e governantes acreditam serem capazes de compreender todas as variáveis que implicam no comportamento e bem-estar das pessoas. Essa magnífica capacidade produz uma verdade que para eles é sublime e inquestionável, tão benéfica que precisa ser imposta a contragosto para os demais indivíduos, por meio do progressismo cultural.
Para isso, utilizam nossa característica inata de propagar e crer em mitos e fantasias, atribuindo sentido aos fenômenos naturais, para propagar ideias coletivistas ajustadas aos interesses de manipular o comportamento humano. Assim, os políticos de carteirinha estão sempre enfatizando o “bem geral da nação” como princípio orientador de ações que prejudicam os indivíduos. A propagação dessas ideias de forma paulatina é parte da estratégia da chamada revolução cultural gramsciana.
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Como as teorias coletivistas são recheadas de lógicas (i)morais, seus seguidores tem hábitos que beiram o fanatismo e os teóricos possuem a certeza de terem encontrado a verdade que extinguirá os sofrimentos da sociedade, qualquer crítica é tratada como manifestação das más intenções do interlocutor. Assim, o que se extingue é a chance de diálogo entre os indivíduos, já que não passam de “corrompidos pelo sistema”, como estratégia de produção do “bem social”.
Chegamos ao cerne da questão. A contradição é clara, no paradoxo do coletivismo parte-se do pressuposto de que as pessoas são tão ignorantes e ingênuas que são incapazes de tomar boas decisões, por isso, um núcleo composto por um grupo restrito, mas dotado de uma capacidade suprema de análises éticas, morais e econômicas, deve tomar todas as decisões pelos demais membros da população. E, a partir dessas decisões, criar mecanismos para “libertar do capitalismo” para viver na completa servidão, algo tão bem descrito por Hayek (1945).
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Marco Aurélio Silva Esteves é Psicólogo, Mestre em Psicologia Aplicada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Coordenador de Apoio ao Estudante da Faculdade Serra da Mesa (FaSeM).