Nos últimos meses circulou muito na internet a parábola da tartaruga que apareceu em cima de um poste. Ninguém entende como ela chegou lá. Todo mundo sabe que não subiu sozinha, que ali não é o lugar dela e que aquilo não vai terminar bem. Pois neste melancólico final de tarde do dia 31 de outubro de 2010, a tartaruga está no poste. Ou melhor, posta no poste.
Teoricamente, na eleição finda, o eleitor brasileiro tinha que escolher entre governo e oposição. Teoricamente. Na prática a coisa era um pouco diferente. “Governo” queria dizer Lula em qualquer versão que ele ungisse para o substituir e “oposição” queria dizer José Serra – uma das menores vocações oposicionistas que a política brasileira já produziu. Serra tem sido bom no governo, mas é um péssimo líder oposicionista. E a tartaruga acabou em cima do poste.
Não se espante, leitor. E admita: o candidato de Lula poderia ter sido o próprio poste. Ganharia também. Por quê? Porque estavam dadas as condições para que isso acontecesse, a saber: uma oposição sem liderança visível e totalmente desorganizada; uma decadência da capacidade de análise política; a cooptação pelo oficialismo de praticamente todas as estruturas e instituições da sociedade; a gastança dos recursos públicos com fins eleitorais que dá luz verde para qualquer candidatura, mas já acende luz amarela em todos os indicadores da economia brasileira. E por aí vai. Acrescente suas próprias observações. Elas, por certo, serão pertinentes.
A tartaruga está em cima do poste e muitos analistas da grande mídia se interrogavam, hoje à tarde, num assomo de discernimento, num surto de curiosidade que se manteve ausente durante a campanha eleitoral, se o futuro governo seria de Dilma, de Lula, de José Dirceu, do PT ou do PMDB. Interrogações póstumas, como se percebe, perante as quais não há resposta boa nem menos pior. Precisamos de um milagre. Ou melhor, de dois. O primeiro para que o futuro governo contrarie as expectativas pessimistas da minoria que o rejeitou nas urnas. E o segundo para que surja no país, em curto prazo, uma liderança oposicionista competente e confiável. Por isso, daqui para frente, muita oração pelo bem do Brasil. Santa Rita (das causas impossíveis) e Santo Expedito (das causas justas e urgentes) são bons intercessores para a atualidade nacional.
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