Na discussão sobre o preconceito e a intolerância, a universidade hoje é reconhecida por muitos como uma força do avanço. De fato, pesquisas indicam que quanto mais uma pessoa tem acesso à educação superior, mais tolerantes elas tendem a ficar em relação a fronteiras de classe, gênero, raça, e opção sexual. Essa mesma pesquisa no entanto encontrou outra tendência um pouco menos lisonjeira à nossa comunidade acadêmica: quanto mais educação formal as pessoas recebem, mais tende a diminuir, quando comparado à população em geral, o seu grau de tolerância em relação a fronteiras políticas e ideológicas. (Isso se aplica tanto para pessoas de direita quanto de esquerda, vale notar). 8 Os motivos exatos para essa tendência ainda são difíceis de discernir, principalmente no contexto brasileiro. Como já falamos, simplesmente não há estudos sistemáticos sobre esse assunto sendo realizados pela nossa comunidade científica. Uma coisa no entanto é certa: nossas universidades hoje têm um atraso para tirar no que diz respeito ao estudo da polarização e intolerância política que pode estar sendo cultivada dentro do campus universitário. Apenas começamos a arranhar a superfície desse problema, e muitos outros fatores ainda precisam ser levados em consideração. Nos resta esperar que a comunidade acadêmica atenda ao chamado (cada vez mais urgente) por um tratamento crítico deste tema e reconheça, também, a oportunidade que aqui se apresenta: Poucos temas tão claramente oferecem a chance de mostrar para a sociedade que a curiosidade científica, a discordância construtiva, a diversidade de ideias e a coragem intelectual ainda são valores cultivados na universidade.
Fonte: “Raciocínio Aberto“, 05/07/2019