O número de mulheres no topo da hierarquia das grandes empresas no Brasil ainda é pequeno. Mas, como se vê pelo número de mulheres que foram nomeadas nos últimos meses, esse cenário está mudando. E na velocidade da internet, segundo Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels. Para a presidente e fundadora da rede Blue Tree Hotels, homens deveriam ficar atentos para ascensão feminina no mundo corporativo.
“Os homens que se cuidem, a vantagem competitiva de ser um profissional do sexo masculino está acabando”, afirma a executiva.
Na década de 80, quando começou sua carreira executiva como diretora de marketing e vendas do Caesar Park, os homens ainda detinham esta vantagem e a senhora Aoki (como é chamada no Blue Tree) era a única mulher. “Só achava muito chato ir às reuniões que só tinham homens. Eu me sentia muito solitária”, conta.
Formada em Direito, Aoki acredita que o verdadeiro aprendizado só acontece quando você mesmo encontra as soluções. Por isso, apesar da comprovada simpatia, insiste em dizer que é muito parecida com a personagem Miranda do filme “O Diabo veste Prada”. “Ela não é de pegar no colo, mas ensina na vida real”, diz.
Leia na íntegra entrevista publicada pela Exame.com:
EXAME.com: Há alguma vantagem em ser uma profissional do sexo feminino?
Chieko Aoki: Hoje? Nenhuma. Quando a pessoa chega na empresa, a gente não questiona mais se é homem ou mulher. A gente analisa o perfil da pessoa. As pessoas já crescem com características femininas e masculinas integradas de alguma forma.
EXAME.com: Mas por que ainda há poucas mulheres presidentes de empresas?
Chieko: Ainda não deu tempo. Antigamente, não existiam tantas mulheres no cargo de gerência, por exemplo. Hoje, muitas estão nesta função. Aí, vai afunilando. Mas acho que isso vai mudar. E essa mudança será na velocidade da internet. Os homens que se cuidem, a vantagem competitiva de ser um profissional do sexo masculino está acabando. Devia-se fazer muito mais perguntas aos homens do que para as mulheres.
EXAME.com: Que tipo de pergunta?
Chieko: Hoje, há mais mulheres com diploma de pós-graduação. O que eles estão fazendo nesse período? Acho que os homens deveriam refletir que, se o mercado não está mais tão voltado para eles, eles deveriam começar a competir consigo mesmos. Quando estou desenvolvendo um trabalho, não vou olhar se meu concorrente é melhor ou pior. Eu tenho que fazer uma reflexão: o que está faltando em mim?
EXAME.com: No início da sua carreira, os homens ainda detinham essa vantagem competitiva. Como se colocou à frente deles, apesar disso?
Chieko: Eu nunca pensei que eles eram homens e eu, mulher. Só achava muito chato ir às reuniões que só tinham homens. Eu me sentia muito solitária. Você chegar num lugar que só conversa de futebol, assuntos de homem. Até você acostumar realmente, não é uma coisa muito agradável. E eu não sou entrona. Não gosto de entrar em conversa de mulher quanto mais de homem. Nunca me senti constrangida por ser mulher. Sentia-me constrangida muito mais como gente por estar com tanto homem.
EXAME.com: O que fazia para driblar isso?
CHieko: Agia da forma mais natural, como se estivesse no meio de mulheres. Pensava que eram todos minhas amigas. (risos)
EXAME.com: A senhora teve que trabalhar mais que os homens com quem convivia?
Chieko: Eu me dedico muito. Quem gosta de trabalhar, sempre arruma alguma coisa para fazer. Quem não gosta, sempre arruma um jeito para não fazer. Talvez as mulheres tenham que se dedicar mais para mostrar mais resultados. Por isso, homens, se atentem. Quem enxerga, enxerga, né?
EXAME.com: No início da Blue Tree Hotels, a senhora se dedicava bastante às tarefas mais operacionais. Como fez e faz para conciliar vida pessoal e profissional?
Chieko: Não tenho filhos e tive um marido muito compreensivo também. Por isso, tive uma carreira muito livre. Mas meu estilo é de dedicação total quando estou trabalhando e quando estou no lazer. Então, final de semana, por exemplo, se eu tenho algum compromisso, eu faço. Mas, depois, desligo o celular e me dedico às coisas que tenho para fazer.
EXAME.com: Há um burburinho de que, quando chegam a cargos de gestão, as mulheres são …
Chieko: Mais duras? Isso é preconceito. Os homens sempre esperam que as mulheres sejam delicadas, boazinhas, gentis, generosas, que abraça, que beija. Homem durão é só um homem durão. Mulher durona? É horrível. Mas isso vai sumir com o tempo. Os homens vão se acostumar com o fato de que há mulheres duronas também. Eu sou muito dura e na minha empresa, todos se acostumaram. Ninguém acha que todas as mulheres são chatas porque eu sou chata.
EXAME.com: Mas a senhora é considerada a “dama da hotelaria brasileira”…
Chieko: Mas sou dura. A secretária até falou que eu sou parecida com a personagem daquele filme “O Diabo veste Prada”. Eu falei: “Sou eu mesmo”. Porque ela é muito exigente, pede 200 coisas ao mesmo tempo. Até perguntei para a secretária: “E você não cresceu? Você não tem capacidade de trabalhar com qualquer pessoa depois de mim? Eu estou te preparando”. Apesar de durona, ela tem um lado humano. Ela não é de pegar no colo, mas ensina na vida real. O verdadeiro aprendizado é quando você sabe que chorou, que sofreu, que foi dolorido, que você buscou a solução para nunca mais cometer o mesmo erro.
EXAME.com: Quais seus conselhos para mulheres que miram os cargos de gestão?
Chieko: Trabalhe, dedique-se muito. Na verdade, não é a quantidade de trabalho, mas a dedicação. Nunca se esqueça de que não dá para fazer nada sozinho. Quanto mais você sobe, mais você precisa das pessoas. Então, se ao longo da sua carreira, você foi justa e legal, essas pessoas continuarão apoiando você. Seja criativa nas soluções, seja diferente. Encontre soluções que tenham a sua estampa. Dizem que eu gosto de serviço. E é verdade. Mas é uma estampa que colocaram. Então, trabalhe para expressar algumas características que sejam como um carimbo só seu.
EXAME.com: Como definir esse carimbo?
Chieko: Carreira não tem segredo. É que a gente se perde muito em querer fazer tudo, ser bom em tudo e adotar todos os modelos. Quer adotar estratégias um dia assim, outro assado. Quando você é jovem, é normal fazer isso. Mas chega uma hora em que você precisa se achar.
EXAME.com: Como a senhora se encontrou?
Chieko: Quando comecei a sentir prazer naquilo que eu fazia. Ao sentir prazer, comecei a me dedicar mais e a fazer melhor.
infelizmente, a situaçao
no brasil está longe de ser assim…
mulher aqui ainda é um objeto sexual
ou alguem que deve ser protegida, nao uma igual
A mulher só é objeto sexual se ela assim permitir, acho que ela está conquistando seu espaço e aquelas que ocupam altos cargos foram reconhecidas pelo trabalho que desempenhou na carreira profissional por isso devem ser tratadas com igualdade.