“Nem sempre a vinda de um ‘grandalhão de fora’ é uma sentença de morte. Só significa que haverá muito trabalho pela frente”, avalia Felipe Matos. Sua fala tem conhecimento de causa: hoje, ele é um dos principais nomes da cena de startups do Brasil, depois de ter cuidado de programas como o Startup Weekend, que deu origem à Easy, e o Startup Brasil, do governo federal.
No entanto, seu maior feito é ter fundado a Startup Farm, uma das maiores aceleradoras da América Latina – lá, ele tem papel duplo: além de investir nas empresas, seu papel é orientá-las para seguir adiante.
Para Matos, as empresas brasileiras precisam se preparar atentamente para enfrentar “ameaças estrangeiras”. “Há um risco grande no mercado: validar uma hipótese e ver um rival tomar seu espaço. O melhor a fazer é focar em crescer rapidamente.” Acompanhe os principais trechos da entrevista.
Que tipo de negócios estão mais sujeitos a uma “invasão estrangeira”?
Esse tipo de situação entre empresas brasileiras e grupos estrangeiros acontece especialmente em negócios que têm barreira de entrada baixa, com pouca regulamentação e questões mais simples do ponto de vista tecnológico. Quanto mais regulado é o setor, maior vantagem competitiva tem a empresa nacional. Setores muito regulados, como a área de saúde ou de finanças, são normalmente mais difíceis para empresas estrangeiras. A Totvs, por exemplo, é um caso de sucesso de empresa voltada ao mercado corporativo que conseguiu se estabelecer há muito tempo porque focou em um setor bem regulado e cheio de idiossincrasias, o de pagamento de impostos.
Como uma startup brasileira pode se preparar?
O melhor que a empresa pode fazer é pensar dois passos adiante e focar em crescer rapidamente. Em muitos casos, as startups começam com negócios interessantes, provam eles dentro de um protótipo e demoram para ganhar mercado. Há um risco muito grande: o de validar uma hipótese e ver um grupo rival, com maior capacidade de investimento, entender aquele mesmo modelo e tomar o seu espaço. Se a startup consegue crescer rápido, ela também pode fazer rodadas de investimentos maiores. O Nubank é um bom exemplo: quando ele começou a incomodar os bancos, eles já tinham se capitalizado bastante.
Concorrer contra uma empresa estrangeira, capitalizada, significa a morte de uma startup?
Não necessariamente. A empresa estrangeira também precisa trabalhar para ser bem sucedida: não basta só ter investimento, é preciso também ter equipe local, velocidade de resposta maior e flexibilidade para atender os clientes brasileiros. Às vezes, ideias que funcionam bem lá fora não se encaixam bem no Brasil. A vantagem de uma startup é sua facilidade de mudar. Nem sempre a vinda de um “grandalhão de fora” é uma sentença de morte. Só significa que haverá muito trabalho pela frente.
Como investidor, situações de concorrência acirrada tornam as empresas mais interessantes?
Se o negócio chama atenção a ponto de ter mercado para um estrangeiro entrar no Brasil, há duas opções: a empresa brasileira vai crescer ou pode haver uma consolidação. Em mercados em que há esse tipo de disputa, como os de aplicativos de transporte, o principal caminho é a consolidação.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”.
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