Quero entoar uma ode à merenda diária que os guardas e o pessoal de vigilância de certos centros estatais recebem. O pãozinho com presunto e queijo, junto ao refresco de cola que o acompanha, são a razão pela qual milhares de cubanos continuam em seus postos de trabalho. Sem o ganho trazido pela revenda desse refrigério muitos haveriam abandonado definitivamente seus postos laborais. Inclusive uma das primeiras perguntas quando se busca emprego não é a quantia do salário – igualmente simbólico e insuficiente em todas as partes – e sim a existência ou não de uma merenda. Comercializá-la por vinte pesos cubanos permite ao trabalhador duplicar seus ganhos, ainda que ele deva abster-se de comer o tão necessário sustento.
Por todas as partes, exibidos discretamente porém fáceis de encontrar para os que buscam, estão a garrafa de Tropi Cola e o bocadinho envolto em celofane. São vistos na entrada dos escritórios telefônicos, atrás das portas de cristal dos bancos, nas guaritas que protegem a entrada dos ministérios, nos pontos de venda de passagens de ônibus, no interior dos museus e até nos cybercafés que oferecem sua lenta Internet a preços elevados. Em todos aqueles lugares que precisam ser custodiados, escoltados, protegidos, há alguém que se vê obrigado a revender sua merenda para seguir em guarda. Umas lascas de presunto e outras de queijo podem fazer a diferença entre ir cada manhã para o trabalho ou ficar em casa.
(Publicado em Geração Y)
No Comment! Be the first one.