Para o psicólogo e consultor americano Edward E. Gordon, o novo mercado de trabalho valoriza a criatividade e a iniciativa
Um dos entrevistados para a matéria sobre futuro dos trabalhos, capa da “Galileu” de outubro, é Edward Gordon, autor do recém-lançado “Future Jobs: Solving the Employment and Skills Crisis Future” (“Trabalhos do Futuro: Resolvendo o futuro da crise de empregos e de habilidades”, sem edição em português”. Na entrevista completa abaixo, o psicólogo americano, consultor de empresas como a IBM e a Microsoft e dos governos dos EUA e da Suíca, se mostra otimista sobre o que deve acontecer no mercado de trabalho em breve. Mesmo assim, diz, “ele não vai ser nenhum pouco estável”
Galileu: As novas tecnologias mudam as carreiras tradicionais e criam profissões novas. Estamos preparados para estas mudanças?
Edward Gordon: Neste momento, não. Tome os Estados Unidos como exemplo: o país tem 30 milhões de desempregados ou pessoas com subemprego. E não é por culpa dos efeitos da crise de 2008, porque existem 7 milhões de vagas abertas que as empresas não conseguem cobrir, porque não encontram as pessoas com a formação e as capacidades necessárias. Está muito claro que o profissional de sucesso precisa de uma formação mais completa do que tem hoje. É preciso aliar conhecimentos técnicos com a capacidade de gerenciar diferentes áreas e se adaptar rapidamente a mudanças. Cito os Estados Unidos como exemplo, mas esta é uma dificuldade global, que também está presente no Brasil.
Galileu: Mas a recessão econômica não teve impacto em pelo menos parte do problema?
Gordon: A crise apenas acelerou um processo que já estava em andamento. O ambiente profissional e a própria definição sobre o que é trabalho já são muito diferentes do que vinte anos atrás. Isso acontece porque a humanidade mudou muito, em vários sentidos, simultaneamente e numa velocidade estonteante. Estamos saindo da era dos computadores e robôs para uma fase que eu chamo “cyber-mental”. Se quiser ganhar bem e ser disputado pelo mercado, o profissional do futuro, de qualquer área, vai precisar de conhecimentos técnicos em sua área, somado a uma formação pessoal muito acima da média, com conhecimento básico de história, sociologia e comunicação.
Galileu: Em uma era de inteligência artificial e uso de computadores, os conhecimentos da área de Humanas ainda vão ter valor?
Gordon: Mais do que nunca! A sensibilidade para lidar com outros seres humanos, conhecer suas demandas e necessidades e se comunicar de forma a vender um produto, emplacar um projeto ou divulgar a si mesmo como profissional, é uma característica que a inteligência artificial vai demorar muito para substituir. O Big Data estimula e acelera uma tendência geral: precisaremos de mais analistas e pessoas com capacidade de gerenciar sistemas informatizados. Mas, para isso, é preciso ter inteligência emocional.
Galileu: Ao longo da segunda metade do século 20, trabalhos que exigiam pouca especialização sustentaram as classes médias. Como estas pessoas vão sobreviver neste novo cenário?
Gordon: Sem dúvida, não estamos mais no mundo em que nossos pais e mães sobreviveram trabalhando muito, mas sem fazer duas faculdades nem cursos constantes de capacitação e atualização. Mas, ao longo da história, o mundo do trabalho já mudou radicalmente ao menos quatro vezes: na transição da Pré-História para a era Antiga, centrada na agricultura; na Revolução Industrial do século 19; e, por fim, na era dos computadores e robôs, iniciada na década de 1970. As pessoas vão se adaptar com muito mais facilidade do que nós imaginamos. Num primeiro momento, elas vão atuar em parceria com as novas máquinas de inteligência artificial – que não vão ser totalmente autônomas por vários anos ainda. Até lá, as novas gerações já estarão acostumadas a lidar com a quinta grande revolução, a da inteligência artificial. A vida do profissional do século 21 vai ser melhor, em vários sentidos, porque vai favorecer a inteligência, a criatividade e a iniciativa. Mas não vai ser nem um pouco estável.
Fonte: Galileu
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