Quando falamos sobre investimentos com o brasileiro médio, grande parte das vezes ouvimos sobre a aquisição da casa própria. Se antes a moradia era vista como uma necessidade básica ao cidadão e às famílias, com o passar do tempo passou a ser também motivo de interesse para negócios, um símbolo tanto de segurança quanto de retorno financeiro para o futuro. Desse modo, adquirir um imóvel pela perspectiva da rentabilidade faz cada vez mais parte da cultura do brasileiro.
Um dos grandes facilitadores de acesso ao crédito no país denomina-se Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV).
Assim, sem experiência com finanças, e nem sequer sendo titular de uma conta corrente na Instituição Financeira (IF), muitos brasileiros foram, a partir do PMCMV, beneficiados por uma operação de crédito de financiamento imobiliário, de valor significativo para o seu patrimônio e prazo longo (até 30 anos). É um compromisso de longo prazo e com substancial investimento, em um país em que a cultura de planejamento financeiro é incipiente.
A partir de 2015, impactados pelo cenário de enfraquecimento na economia nacional e incertezas políticas, houve o agravamento na situação do mercado imobiliário brasileiro. Fatores que incentivavam a lógica da aquisição minguaram ou mesmo sumiram, resultando numa queda no valor dos imóveis que perdura até hoje. O reflexo nas vendas? Segundo dados da Abecip, os financiamentos alcançaram R$ 75,6 bilhões no ano passado, uma queda de 33% em relação ao ano anterior.
Sob esse panorama do mercado imobiliário, cabe indagar quais seriam as perspectivas para o investidor em imóveis, que viraram símbolo de investimento no Brasil, ante a crise econômica e política que nos acomete.
O resultado final é que, a partir de 2015, o preço dos imóveis no Brasil vem sofrendo queda real, percebida por todos do mercado, mas ironicamente não refletida nos indicadores do segmento.
É notável que a inflação impacta os investimentos no segmento imobiliário, uma vez que corrói o preço à vista destes bens. Por este motivo, destaca-se o avanço no controle da inflação, como benefício ao segmento. Ainda na esfera de ações macro, dois aspectos positivos estão relacionados ao saque do FGTS e as reduções na nossa taxa básica de juros (conhecida como Selic).
Por outro lado, com o desemprego ainda elevado para uma economia em desenvolvimento, o PIB não crescendo na mesma taxa das economias comparáveis a nossa, e certo desgaste à imagem de bom investimento associado às quedas de preços nos últimos anos, a perspectiva para o setor permanece morna. Mais anos de desacumulação dos estoques de novos empreendimentos serão provavelmente necessários antes de uma retomada mais firme se firmar no nosso mercado.
Assim, ainda que seja preciso manter a cautela, um investidor atento aos sinais do mercado pode agir e se beneficiar, por exemplo tomando proveito nas negociações a partir da baixa de preços mencionada.
Após uma extensa pesquisa sobre o mercado imobiliário, escrevi um livro sobre o assunto: “Imóveis – seu guia para fazer da compra e venda um grande negócio” (Saraiva, 2010). Ao longo do trabalho de observação, tive a oportunidade de me deparar, diversas vezes com os mesmos desacertos dos investidores. Percebi que os erros apresentavam um padrão sistemático, ao contrário da visão que frequentemente se ouve sobre serem a exceção nas negociações. Mas ficou claro também que seria possível evitá-los se os cuidados comentados neste artigo fossem sempre tomados.
No entanto, isso não significa que todo negócio com imóveis será lucrativo; uma avaliação criteriosa se faz necessária, visto que se trata de um mercado realmente complexo, e fazer um bom negócio exige tempo e experiência, ativos que não raro não dispomos na mesma quantidade que acreditamos ter, numa espécie de viés de afirmação – tanto mais numa sociedade, como descrevemos no início desse artigo, em que a cultura de planejamento financeiro possui amplo espaço de melhorias. E, claro, um pouco de sorte vem bem a calhar!
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