De acordo com a última pesquisa do Genial/Quaest, 55% dos eleitores ainda não escolheram, de forma espontânea, seu candidato à Presidência em 2022; Lula é o escolhido por 22%, enquanto Bolsonaro, por 17%. Todavia, o ex-presidente e o atual são rejeitados, respectivamente, por 43% e 65% dos eleitores. E, quando perguntados quem preferem que vençam as eleições, 30% respondem: “nem Lula, nem Bolsonaro”.
Mais de Carlos Pereira
Um controle desequilibrado
Conversão moral importa para a democracia?
Portanto, há uma fatia expressiva no mercado eleitoral a ser disputada por uma candidatura alternativa aos dois polos rivais e que se retroalimentam.
O problema para muitos é que, sendo os partidos “não polares” incapazes de se coordenar na escolha de uma só candidatura alternativa à de Lula e à de Bolsonaro, receia-se que uma pletora de candidatos de centro termine por reduzir a disputa à polarização entre Lula e Bolsonaro, que só a eles interessaria.
Mas esse cenário dificilmente acontecerá. Porque, diferentemente de 2018, é pouco provável que as eleições de 2022 tenham muitas candidaturas alternativas a presidente.
Partidos têm trajetórias distintas em presidencialismos multipartidários. Podem seguir a trajetória majoritária, lançando candidatos à Presidência, ou podem seguir uma trajetória legislativa. Enquanto a trajetória majoritária oferece os maiores retornos ao vencedor, gera os piores ao perdedor. Já a trajetória legislativa proporciona retornos intermediários entre os do vencedor e perdedor.
Partidos podem mudar de trajetória, mas tal mudança acarreta custos não triviais. O MDB é um bom exemplo desse paradoxo. Todas as vezes que perseguiu a trajetória legislativa, acumulou ganhos importantes ao conseguir ocupar a posição de “partido pivô”, independentemente de quem tenha sido o vencedor à Presidência. Por outro lado, todas as vezes que mudou de trajetória e lançou candidato à Presidência, foi não apenas derrotado nas eleições, mas também perdeu relevância dentro do próprio Legislativo.
A eleição de 2022 será bem distinta da eleição de 2018, que exibiu um cenário de terra arrasada proveniente dos sucessivos escândalos de corrupção e da forte recessão econômica das gestões petistas. Além do mais, não apresentava um candidato consolidado na dianteira, tampouco um incumbente concorrendo à reeleição. Esses elementos de 2018 estimularam partidos menores e de perfil legislativo a mudarem de trajetória e concorrerem à Presidência.
Com chances menores nas eleições de 2022, apenas os partidos que têm um “DNA majoritário” teriam reais condições de oferecer candidatos à Presidência, pois eles já estariam preparados a “empobrecer” em caso de derrota.
O número elevado de potenciais candidatos alternativos à Presidência no momento atual apenas reflete uma tentativa de os partidos cacifarem seus pretendentes na vitrine do mercado eleitoral anti-Lula e anti-Bolsonaro. Aquele que conseguir atrair maior competitividade arrefecerá o ímpeto dos demais. Quem estrategicamente vai definir o candidato da “terceira via” será o próprio eleitor.
Fonte: “Estadão”, 01/11/2021
Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE