A viagem da presidente Dilma Rousseff à Índia é revestida de uma importância muito superior ao que pode parecer à primeira vista. Esta semana, ela desembarcará na capital Nova Delhi para se reunir com os presidentes Dmitri Medvedev, da Rússia, Hu Jintao, da China, e Jacob Zuma, da África do Sul.
Além deles, o encontro contará com o anfitrião, o primeiro-ministro Manmohan Singh. Tratarão, como não poderia deixar de ser, da crise mundial e da forma de esse grupo (que ensaia os passos iniciais de uma ação em bloco) lidar com ela.
Bem ou mal, todos os chamados Brics vivem um momento de expansão, enquanto o mundo desenvolvido se vê diante do risco da estagnação.
A grande importância da conferência está na oportunidade de as cinco economias emergentes mais destacadas do mundo discutir os pontos que as unem – mas, da mesma forma, será inevitável tocar nas diferenças que volta e meia as colocam em campos opostos.
Brasil e China, para citar apenas um exemplo, estão diante da necessidade de redefinir os termos de sua parceria. Isso terá que ser feito à luz das dificuldades que a indústria nacional tem enfrentado a partir da expansão da presença de produtos chineses no mercado doméstico.
O Brasil tem muito que aprender em meio a esse grupo. Mas ninguém pode ignorar que o país tem, na mesmíssima proporção, muito que ensinar. Sobretudo no que diz respeito à consolidação institucional e aos efeitos dessa consolidação sobre a economia.
Um contrato brasileiro desfruta, hoje em dia, de uma credibilidade muito maior do que o de qualquer outro país do bloco – e isso, convenhamos, não é pouco.
Quem imagina que Dilma Rousseff tem problemas no Congresso em função dos contratempos causados pela “base aliada” deveria olhar o ambiente político nos quatro países.
A China, uma das mais sólidas ditaduras do mundo, terá que passar, mais cedo ou mais tarde, por mudanças que levarão a um inevitável aumento da participação popular na política.
A Rússia ainda não definiu se prefere ser uma economia de mercado sob uma democracia ou se retroage aos tempos da estatização absoluta sob um regime de exceção.
A Índia tem problemas de inclusão social muito maiores do que os do Brasil, e a África do Sul ainda não curou todas as feridas do apartheid. O Brasil, por sua vez, é uma democracia cada vez mais sólida e os problemas que enfrenta são justamente porque ele escolheu esse caminho. Ainda bem.
Chico Anysio
Pertenço a uma geração que desde muito cedo aprendeu a admirar o humorista Chico Anysio – e a rir com os personagens criados por ele.
Alguns são retratos fiéis de um Brasil que se transformou e evoluiu enquanto ele os encarnava em seus programas.
Chico, que morreu na sexta-feira passada, aos 80 anos, tinha uma habilidade incrível para retratar com graça e profundidade cada momento que o país viveu ao longo das últimas décadas.
É o tipo de artista que se vai e deixa o caminho aberto para vários sucessores – que terão de trabalhar muito para chegar perto do que ele foi.
Fonte: Brasil Econômico, 26/03/2012
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