Em meio às pressões do governo de Roraima para fechar a fronteira e barrar a entrada de imigrantes venezuelanos, a acolhida às vítimas da crise humanitária repercutiu nas contas públicas por meio da encomenda de quase R$ 39 milhões em contêineres.
O aluguel das peças foi encomendado pelo Ministério da Defesa a duas empresas, a Multiteiner e a Artex. Os empenhos foram feitos até 17 de abril, num período de pouco mais de um mês, desde que o presidente Michel Temer editou medida provisória destinando R$ 190 milhões para a assistência emergencial aos venezuelanos.
Pesquisa nas notas de empenho (primeiro passo na liberação do dinheiro) identificou modelos diferentes e preços que variam de R$ 5.000 a R$ 13.604,75. São contêineres para o alojamento de oito indivíduos, com instalações hidráulicas e elétricas, containers frigorífico, escritório e sanitário com banho, por exemplo. Por um valor médio de R$ 9.302, o dinheiro destinado à locação de contêineres até agora seria suficiente para mais de 4 mil unidades.
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Os contêineres são, sem dúvida, o principal item da ação orçamentária intitulada “Assistência emergencial e acolhimento humanitário de pessoas advindas da República Bolivariana da Venezuela”. Eles são o destino de 88% dos empenhos registrados. A contabilidade já desconsidera os empenhos que foram cancelados no período.
A Contas Abertas questionou o Ministério da Defesa sobre onde seriam instalados os contêineres. A assessoria da Força Tarefa Logística Humanitária no Estado de Roraima, conhecida como Operação Acolhida, informou que, até aquele momento, 52 contêineres haviam sido instalados nos abrigos de imigrantes e em áreas de apoio a esses abrigos. As prefeituras de Boa Vista e Pacaraima cuidam de disponibilizar os locais para receber os venezuelanos.
Informou ainda que, apesar de caracterizada situação emergencial, a Base de Apoio Logístico do Exército no Rio de Janeiro, que centraliza as operações, tem realizado licitações para a locação dos contêineres.
A Agência a ONU para Refugiados (ACNUR) calcula de 1,5 milhão de venezuelanos tenham sido obrigados a fugir do país em busca de assistência humanitária. De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados do Ministério da Justiça, os venezuelanos responderam por 53% dos pedidos de refúgio registrados no ano passado: 17.865.
Fonte: “Contas Abertas”