Em uma eleição confusa como esta de 2018, decidir na última hora é a estratégia óbvia para a maioria dos partidos políticos, em especial aqueles que não têm candidato próprio à Presidência da República. É claro que nenhum deles precisa de mais tempo para concluir estudos sobre a situação do país, elaborar um programa de governo ou negociar alianças em torno de suas ideias e propostas. Todos precisam deste tempo que resta até 5 de agosto para enxergar melhor o cenário eleitoral, que está tão turvo quanto a água numa caverna alagada na Tailândia.
A três meses do primeiro turno, o candidato melhor colocado nas pesquisas está preso — e, portanto, não poderá concorrer — o segundo e terceiro colocados estão em partidos pequenos e as pesquisas indicam os mais altos índices de intenção de votar em branco ou nulo e de abstenção registrados em tempos recentes. A campanha será curta e o dinheiro — pelo menos o legal — à disposição será escasso.
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É nesta disputa sem favoritos, em condições adversas para os políticos, que a maioria dos partidos terá de decidir a quem apoiar. Trata-se de escolher qual candidato oferece maiores vantagens (sejam elas quais forem), em troca dos preciosos segundos a que cada partido tem direito na propaganda eleitoral na televisão. É para negociar os melhores termos em torno disso que os partidos querem mais tempo.
Um bom acordo nesta etapa inicial é fundamental para o futuro. Em um primeiro momento, os partidos buscam estabelecer qual candidato proporcionará a chance de eleger uma maior bancada. Afinal, quanto mais deputados e senadores eleitos, maior o poder de barganha por espaço — tradução: cargos e acesso a dinheiro público — no futuro governo.
A despeito de tudo que será dito até lá, o presidente eleito em outubro não terá uma base de apoio numerosa e dependerá mais do Congresso do que seus antecessores mais recentes. Estará, portanto, numa situação difícil, nas mãos do Congresso que será eleito. Quem estiver desde já ao lado deste vencedor terá melhores condições nas negociações por espaço — cargos e acesso a dinheiro público — no governo.
Em última instância, os partidos negociam alianças eleitorais agora para estarem numa boa posição naquelas planilhas que circularão na Casa Civil no início de 2019, aquelas com os mapas das nomeações para ministérios, estatais, órgãos estaduais, etc. Conquistar o poder de manobrar maiores ou menores verbas públicas a partir do ano que vem é um jogo que exige visão estratégica e apostas no incerto, que têm de ser feitas já. É por isso que os partidos vão usar todo o tempo à disposição para negociar.
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CONVENÇÕES PARTIDÁRIAS – A HORA DA DEFINIÇÃO
PSL: 22 de julho
Cenário atual: Candidatura de Jair Bolsonaro consolidada. Falta definir o vice. A principal aposta é Magno Malta, do PR, partido que ainda não decidiu o rumo e que terá convenção no dia 22. Confirmada, a aliança aumenta em oito vezes o tempo de TV do candidato, que lidera todas as pesquisas sem Lula
PDT: 20 de julho
Cenário atual: Ciro fará a convenção longe do prazo final embora seu quadro de alianças esteja bem indefinido. Ele mira no PSB, no DEM e nos partidos do chamado centrão, como PR e PP, que têm expressivo tempo de TV. Porém, enfrenta grande resistência pelo histórico de embates com esses partidos
REDE: 04 de agosto
Cenário atual: Marina tem o apoio de PHS e PMN. Aliado da eleição de 2014, o PSB já descartou uma aproximação. O PPS, de Roberto Freire, é o principal alvo. A legenda não vai antecipar a escolha do vice para não se se afastar de possíveis aliados, como o PV, que está mais próximo dos tucanos
PSDB: 04 de agosto
Cenário atual: Geraldo Alckmin espera a data-limite porque aliados em potencial temem seu baixo desempenho nas pesquisas. O DEM, aliado histórico, flerta com Ciro. O centrão segue o mesmo roteiro. O tucano pretende anunciar o apoio de outros partidos, como o PTB, ainda este mês
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MDB: 04 de agosto
Cenário atual: O partido do governo aguarda até o último prazo para confirmar o nome de Henrique Meirelles. Por ora, o MDB não tem aliados, mas assegura a manutenção da candidatura própria. Outros partidos não querem ter o nome atrelado ao presidente Michel Temer, rejeitado pela população
PT: 04 de agosto
Cenário atual: Mesmo ficha-suja, o ex-presidente Lula segue como o candidato do PT. Com isso, aliados históricos, como o PCdoB e o PSB, resistem em formar aliança nacional. Até o dia da convenção, o partido estudará se aciona o plano B, que é a indicação do ex-prefeito de SP Fernando Haddad
PSB: 05 de agosto
Cenário atual: O PSB estuda várias possibilidades e faz as contas sobre o impacto da aliança nacional sobre a disputa nos estados. Conversa com PT e o PDT, sendo a última a principal alternativa. A aliança com Marina está descartada após o rompimento da Rede com governadores da legenda
DEM: Indefinido
Cenário atual: O DEM deve decidir amanhã a data da sua convenção. Embora o deputado federal Rodrigo Maia ainda mantenha a sua pré-candidatura ao Planalto, boa parte da cúpula do partido deseja fechar uma aliança com o PSDB. Há ainda quem flerte com o pedetista Ciro Gomes, que sofre resistências
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PP: 02 de agosto
Cenário atual: O PP integra o grupo de partidos que conversa com Alckmin, mas também está dividido entre apoiar Ciro Gomes ou liberar seus diretórios nos estados. Assim, a sigla não apoiaria um nome específico para o Planalto e poderia articular a eleição de numerosa bancada para a Câmara
Fonte: “O Globo”