Algumas das pessoas mais ricas dos Estados Unidos defenderam ontem um imposto federal sobre grandes fortunas. O bilionário George Soros, as herdeiras Regan Pritzker e Abigail Disney e o cofundador do Facebook Chris Hughes estão entre os que pedem a taxação para ajudar a diminuir a desigualdade de renda e financiar investimentos para enfrentar as questões da mudança climática e saúde pública.
Com o título “Carta aberta aos candidatos à presidente para 2020: é hora de cobrar mais impostos de nós”, o texto pede que os candidatos, “sejam eles republicanos ou democratas”, apoiem um “imposto sobre fortunas moderado” que incida sobre os 0,1 % dos americanos mais ricos. “Ou seja, sobre nós”, diz a carta, assinada por 19 bilionários.
Não é a primeira vez que isso acontece. Na verdade, os bilionários simpatizantes do Partido Democrata inflam este balão de ensaio toda vez que começa uma corrida presidencial, para orgulho e deleite dos estatistas.
A primeira e óbvia pergunta diante dessa carta é: por que esses senhores estão esperando pelo governo, já que, de acordo com as normas do imposto de renda daquele país, qualquer cidadão pode doar ao Tio Sam a quantia que quiser, na hora que bem entenda.
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A resposta padrão para esse tipo de questionamento costuma mencionar o velho brocardo: “uma só andorinha não faz verão”. Isso pode ser até verdadeiro, mas não os exime de dar o exemplo. Falar é muito fácil, e os americanos têm uma expressão que demonstra bem a hipocrisia dessas pessoas: “put your money where your mouth is”, que em tradução livre seria algo como: “Se quiser que algo se concretize, largue as palavras e passe às ações”. Em outras palavras, se eles voluntariamente pagassem mais impostos, suas palavras rapidamente deixariam de ser uma farsa aos olhos dos céticos para tornarem-se uma inspiração. Mostraria, no mínimo, liderança. Daria credibilidade ao seu discurso oco. Mas eles não fazem nada disso. Permanecem aguardando uma mudança na legislação que dificilmente virá, porque seria, no mínimo, contraproducente, como afirma a boa ciência econômica.
Como ensinou Adam Smith, a poupança (que ele chamava de parcimônia) é condição sine qua non para o investimento e a formação de capital, e sem isso não há aumento da produção (crescimento econômico). Transferir poupança dos ricos para o Estado é uma forma simples – e estúpida – de transformar poupança em consumo (do governo), prejudicando a sociedade como um todo.
Não por acaso, a maior riqueza das nações capitalistas está concentrada no seu enorme estoque de bens de capital – tangíveis e intangíveis. O que realmente impulsiona o padrão de vida nestas sociedades é o fato de a quantidade de máquinas, equipamentos, ferramentas, componentes de alta tecnologia, além de conhecimento e informação colocados à disposição dos trabalhadores ser sempre crescente, aumentando constantemente os índices de produtividade do trabalho e, consequentemente, os padrões de bem estar.
Entregar parte da poupança dos muito ricos para os governos, assim como as decisões de onde investir essa poupança para os políticos e os burocratas, pode até fazer algum bem ao ego dos invejosos, mas em termos econômicos, para a sociedade em geral, isso é altamente contraproducente.
O propalado imposto sobre os super-ricos é temerário não apenas por mexer na poupança, nos investimentos e na formação de capital, mas também por induzir a transferência de riquezas para o exterior. Durante a campanha presidencial de 2012, na França, o então candidato favorito, François Hollande, resolveu tirar da cartola um aumento brutal de impostos sobre os ricos. Logo, tiveram de voltar atrás, devido à revoada dos ricaços para o exterior, liderada por Gerard Depardieu, que pediu e obteve a cidadania russa.
Impostos mais altos sobre os ricos estão longe de ser um almoço grátis, como pensam muitos. Em curtíssimo prazo, eles podem até levantar a receita (embora isso não seja garantido), mas não sem um custo enorme em termos de eficiência e crescimento a médio e longo prazos. Se o orçamento é a principal preocupação dos governos, reformas que fechem gargalos e alarguem a base tributária são uma forma muito mais eficiente do que o aumento dos impostos para os ricos.
Agora, vamos à cereja do bolo: falemos um pouco de George Soros, um dos mentores da tal carta dos bilionários. Soros é amplamente reconhecido como o cérebro por trás de um esforço global para instituir um esquema pesado de redistribuição de riqueza. Na tentativa de tornar essa agenda real, George Soros despejou milhões, senão bilhões, nos cofres dos políticos progressistas em todo o mundo, mas principalmente nos Estados Unidos, onde sua influência é sentida em todo o partido Democrata. Não por acaso, ele é o grande guru dos marmanjos mal lavados, adoradores de Che Guevara et Caterva.
O problema é que, como todo grande oportunista, George Soros não está tão interessado nas leis tributárias que defende quanto pretende que pareça. De acordo com uma investigação da Bloomberg, o homem que quer garantir que os ricos não fiquem mais ricos, tem usado princípios muito “conservadores” – como ele os definiria – de engenharia tributária para aumentar sua fortuna.
Mas a engenharia tributária de Soros não para aí. Apenas em 2017, por exemplo, Ele transferiu US $ 18 bilhões de sua fortuna para uma instituição de caridade privada que ele controla. Lá, essa fortuna estará protegida do Internal Revenue Service (a Receita Federal de lá) para sempre, pois a fundação está amparada pela chamada finalidade filantrópica.
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Grande parte da riqueza que o sr. Soros passou anos mandando para a Open Society Foundations nunca será tributada. Um presente de bilhões de dólares em ganhos de capital escapa a qualquer imposto. Tem mais. Quando uma pessoa doa bens não tributados e valorizados a uma fundação privada, ele também pode deduzir até 20% de seu valor de mercado em sua renda pessoal, levando adiante essa dedução por cinco anos. Esta dupla anulação pode ser o melhor negócio do mundo, porque amparado pelo código tributário do Tio Sam.
Além disso, os doadores também podem manter o controle do dinheiro dentro da fundação privada por anos, ou mesmo décadas, antes que seja desembolsado. Como a fundação pode empregar membros da família com salários de seis dígitos durante a vida inteira, o cordão umbilical que liga donatários e doadores nunca precisa ser cortado.
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