Há beleza em manter certa ingenuidade, um fascínio de juventude que encanta um sonho de futuro. Lembro-me que aos 17 anos fui, com minha namorada, ao congresso da SBPC em São Paulo. Era a época do fim da ditadura e o clima de repressão ainda pairava no ar. Inebriado com tantos debates, deixava-me levar pelas palavras apaixonadas de Darcy Ribeiro, pela lógica de Fernando Henrique Cardoso, pela beleza e lucidez de Milton Santos.
Em meio a um oceano de ideias e discussões, eu vivenciava o inicio da paixão pela democracia. Gostava de ouvir as belas oratórias, independentemente de concordância. Depois vieram as eleições e os debates foram os melhores momentos. Mario Covas, Jânio Quadros, Brizola, Lula, Maluf, Collor, era uma festa.
O debate eleitoral é o momento supremo de afirmação da democracia, é o instante em que os postulantes se apresentam sozinhos, sem maquiagem marqueteira, diante de seus adversários. É o respeito pela necessidade de qualificar o processo de construção da consciência do individuo, do eleitor. Negar-se ao debate é, em oposição, um profundo desrespeito ao cidadão. Há no gesto de fugir uma implicação de fraqueza, de saber-se menor.
A democracia é um princípio e ganhar sem princípios habilita as mais escusas ações no poder. O debate eleitoral carrega implícita a pergunta do eleitor: Em nome de que princípios você pretende governar? Aquele que foge do debate não quer, ou não pode, responder a essa pergunta.
As eleições representam muito mais do que eleger os governantes, significam o aprofundamento daquilo que tornou-se um ganho civilizatório, a experiência de conviver com a diferença sob o reinado das leis e da liberdade.
(“O Dia” – 25/07/2010)
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