Ao observador mais experiente, o debate rasteiro e pedestre dos candidatos presidenciais não engana. A superficialidade pode ser arma de espertos e recurso daqueles que não têm muito o que dizer de diferente.
Dilma Rousseff se atém a números e resultados que, de certa forma, falam por si. Por representar um governo popular cujo presidente é o grande eleitor da disputa, tende a não se aprofundar em propostas.
Já José Serra e Marina Silva são superficiais por absoluta falta de originalidade no que tange a aspectos essenciais.
Nada de espetacular foi falado sobre economia, segurança, carga tributária e política externa, entre outros temas, pelos candidatos de oposição.
No debate promovido pela TV Bandeirantes, ficou evidente a ausência de um discurso aprofundado sobre ideias e programas.
Tal situação pode dar a impressão de que não existe uma agenda eleitoral posta na disputa e que a superficialidade é a regra. Não é verdade.
Ao largo do debate presidencial, existe uma agenda “ônibus”, que agrega gregos e troianos e que não está sendo devidamente considerada. A agenda que identifico está centrada em dois vetores: o econômico e o social.
A perna econômica refere-se à intenção de se manter o ciclo de desenvolvimento dos últimos anos e que começa a dar frutos. A segunda perna da agenda é a questão social, que se relaciona tanto com os vetores econômicos de renda e emprego quanto com os programas assistenciais.
A classe C, considerada a classe média, é a maior do país, com mais de 100 milhões de brasileiros. O consumo da classe D já supera em volume o consumo da classe B.
De acordo com o Ipea, mais de 9 milhões de brasileiros deixaram a situação de indigência e mais de 18 milhões deixaram a situação de pobreza.
O Brasil deve crescer mais do que 6,5% este ano, e tal resultado decorre de uma combinação de aspectos: aumento do crédito, distribuição de renda, controle da inflação, aumento de emprego, programas assistenciais e gastos públicos, entre alguns outros.
A explosão do consumo resultou no fortalecimento do mercado interno e destampou um mundo de oportunidades para empresários. Nunca se vendeu tanto para tantos. Nunca se empregou tanto no país.
Politicamente, a resultante dessas transformações econômicas e sociais está naquilo que o cientista político Cesar Romero identifica como “uma cadeia de interesses”.
Nessa cadeia unem-se aliados improváveis em torno de interesses comuns: o desenvolvimento econômico e a distribuição de renda.
Quem seriam os adeptos da agenda? O grande empresariado que produz e vende. Aqueles que fornecem material para as grandes obras de infraestrutura.
O sistema financeiro, que financia e transaciona o dinheiro. O comércio, que distribui e vende. O consumidor, que compra o que nunca comprou. O trabalhador, que está empregado e consumindo.
Enfim, trata-se de uma roda da fortuna que gira impulsionada pelas circunstâncias atuais e que a maioria quer que continue assim.
Fonte: Jornal “Brasil Econômico” – 17/08/10
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