O resultado das eleições delineou um cenário político que requer o reposicionamento dos partidos, da população e da imprensa frente ao Luiz Inácio Lula da Silva como presidente.
Os que nele votaram porque a alternativa era pior encontram-se na obrigação de acompanhar intensamente o desempenho do próximo governo. Não para exercer oposição destrutiva, mas sim para cobrar políticas públicas propícias ao desenvolvimento econômico e social, sob um clima democrático e de honestidade irrefutável. E os adeptos do PT possuem a responsabilidade de manterem-se atentos ao desempenho do presidente, como condição para justificarem sua fidelidade ao partido e seu líder.
Lula, e por consequência o PT, não merecerá perdão se abster-se de enfrentar os empecilhos à prosperidade nacional que perduram desde passado remoto e, também, se deixar de priorizar áreas negligenciadas historicamente, entre as quais as a seguir mencionadas como exemplo.
Caso se omita em promover o tema do meio ambiente à linha de frente de sua atuação, o próximo governo será alvo de completo descrédito e o PT perderá razão de existir. As mesmas consequências serão justificáveis caso deixe de executar uma política de atenuação dos contrastes sociais de renda que não esteja restrita a caridades governamentais, tipo bolsa família.
A política de equidade social correta requer medidas tributárias e investimentos para aumentar eficácia e abrangência de setores que beneficiam proporcionalmente mais as camadas de menor renda, tais como educação, saúde, transporte coletivo, habitação, saneamento e outros. O realizado por Lula durante os mandatos anteriores foi insuficiente para mudar de maneira substancial a fisionomia desses setores
Por outro lado, é indispensável buscar um perfil de normalidade para as contas públicas. Não sob o ângulo da submissão implacável de todas as áreas da vida nacional ao rigor fiscal, mas sim para tornar o setor público financeiramente apto a agir em prol do crescimento econômico e da equidade social. Mesmo quando a curto prazo aparenta beneficiar as classes de menor renda, o gasto público irresponsável conduz, a médio e longo prazos, a consequências danosas a essas classes, inclusive por gerar tendência à inflação.
Na área internacional, nada mais relevante do que reaproximar o Brasil aos países da América Latina, principalmente os seus vizinhos. A máxima intimidade política e comercial com os países da América do Sul constitui um dos requisitos para a prosperidade e a ampliação da relevância mundial da região. No campo político, se o próximo governo não demonstrar seu desacordo com as ditaduras reinantes na Venezuela, Nicarágua e Cuba, perdurará a percepção existente em certos segmentos de que Lula admira esses regimes.
O lema da antiga UDN, União Democrática Nacional, partido político existente no período 1945 – 1964, dizia: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Pois bem, agora torna-se oportuno afirmar: “o preço da governança exemplar é a eterna vigilância”.
Na verdade, a postura vigilante da sociedade justifica-se ante todos os ocupantes de cargos públicos e não apenas ante o chefe de Estado. Porém, essas últimas eleições presidenciais demonstraram que a maior parte dos brasileiros não adota essa postura, predominando os que apoiam fanaticamente seus ídolos e partidos preferidos, sem nenhum senso crítico.